No primeiro período como secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Caxias do Sul (Smapa), Rudimar Menegotto afirma ter enfrentado grandes desafios, como períodos de estiagem severa, a catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2024 e a crise da pandemia do coronavírus, entre 2020 e 2022.
Agora, para o novo período à frente da pasta, projeta o crescimento do setor a partir de políticas públicas implementadas no primeiro governo de Adiló Didomenico, como a desburocratização para os agricultores e a criação de reservas de água para mitigar os efeitos da estiagem.
Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha Serra, Menegotto projetou ações para a nova gestão na Smapa. Confira a seguir:
Gaúcha Serra: O senhor foi secretário em boa parte do primeiro governo Adiló Didomenico e volta, agora, para este segundo governo. Com quais objetivos? O que o senhor pretende fazer de diferente e a mais na comparação com a sua primeira passagem pelo governo?
Rudimar Menegotto: A gente teve a oportunidade de estar à frente da secretaria por mais um período. Esperamos ter um pouco mais de tranquilidade. Foram quatro anos difíceis, em virtude de todos os problemas que se enfrentou desde o início da pandemia, da própria enchente e da estiagem.
A estiagem foi o que, talvez, causou o maior dano no nosso interior. Ainda tem muitos locais que não se recuperaram 100% e talvez demorem ainda um bom tempo e nem se recuperem áreas. Então, são várias ações que a gente pretende, planejamento, projetos com um pouco mais de calma e com menos situações adversas. É isso que a gente espera nestes próximos quatro anos: colher um pouco do que se plantou nesses quatro anos anteriores, principalmente nessa questão da desburocratização, que era muito cobrado do nosso prefeito Adiló.
Quais ações serão implementadas para evitar danos se novas questões climáticas acontecerem em Caxias do Sul, como aconteceram no ano passado?
Nos quatro anos que a gente passou, nós tivemos um problema sério da estiagem, em três anos consecutivos. A gente buscou, junto com os nossos produtores, um incentivo em reservação de água. Olha o que aconteceu no ano passado. Trabalhamos nisso naquele momento e agora é o contrário, a gente tem que prevenir.
Temos muito produtor que perdeu muito dos solos. Tem uma previsão que saia, em janeiro, o projeto de recuperação de solo (do governo do Estado), onde parece que o Estado vai ter R$ 700 ou R$ 800 milhões para a gente buscar esses recursos e, justamente, aplicar nessas propriedades que mais foram atingidas, porque são agricultores especiais para o nosso município. Até porque essa região que foi mais atingida é a que fornece os produtos para as feiras do nosso município e que abastece a população caxiense.
Houve desabamento em muitos pontos e houve solos que foram levados, na camada mais acima, que era a camada mais fértil. Esse é um trabalho que leva muito tempo para reconstituir, havendo dinheiro disponível para isso?
Com certeza. A gente até diz para alguns produtores que nunca mais vai ser que nem antes, porque tem rachaduras e deslocamentos. Então, é uma preocupação. Muitas coisas a gente não consegue mais recuperar, mas principalmente esses que trabalham com olericultura (plantação de hortaliças), a gente precisa dar um atendimento especial. A gente espera que esse recurso (do governo do Estado) venha, porque o município não tem recurso suficiente para atendimento.
Hoje, nós temos duas máquinas prestando atendimento para a melhoria daquelas estradas internas que foram destruídas. Também a questão de drenagem, estamos buscando fazer, atender aqueles produtores que mais necessitam.
Nós temos o Plano Municipal de Desenvolvimento Rural, que é o diagnóstico das propriedades, onde a gente fez todas aquelas reuniões com o que eram as principais demandas do nosso interior. Ele foi aprovado, independentemente do governo que entrar, está aí. Muitas ações e demandas das comunidades vão ser atendidas por um prefeito, ou em algum momento por outro. Todas essas demandas não se relacionam diretamente à Secretaria da Agricultura, mas, sim, a várias secretarias.
Temos o HortiSerra, que é uma área que foi cedida para o município, que está quase pronta. Justamente para ter difusões de tecnologias, as novas variedades colocadas em prática pelas empresas mostrando ao nosso agricultor quais são as variedades que mais se adaptam à nossa região.
Temos um desafio muito grande que vamos começar a discutir, que é o projeto antigranizo, que conhecemos em Santa Catarina e que existe há mais de 30 anos. Nós precisamos tentar minimizar os impactos do granizo, porque tivemos três pontos do município que foram atingidos de forma pontual. Não são áreas grandes, mas o prejuízo é o trabalho de um ano perdido. A gente quer, com os municípios da região, tentar instalar, com Caxias puxando a frente. O prefeito já está com uma data marcada para o dia 7 de fevereiro, em que vai chamar os municípios da região para tentar viabilizar esse projeto para proteger um pouco mais a nossa produção.
Como vai funcionar? Como vocês imaginam? É um equipamento que vai ser comprado pelos municípios?
A gente está buscando recursos com o Estado. No ano passado, já teve reunião com a Secretaria da Agricultura do Estado. Santa Catarina é um exemplo: eles têm esse sistema já em 15 municípios que fomos visitar. Estamos buscando esse sistema para ser instalado de forma coletiva. Não adianta só Caxias do Sul querer. Por isso, estamos chamando em torno de 15 municípios da região para que, juntos, possamos buscar recursos do Estado.
Fizemos um orçamento de 14 municípios e daria em torno R$ 15 milhões cada um. A manutenção anual, depois, diminui para R$ 10 milhões.
Em um município grande como Caxias, por exemplo, você instala esse sistema em mais de um ponto? Como funciona isso?
Ele é dividido em todo o município, não são pontos específicos. Tem que abranger toda a área para ter uma proteção mais eficiente. Por isso a gente está buscando os municípios vizinhos para estarem juntos no projeto. Justamente para ele ter uma eficiência maior, porque ele depende de quanto mais área tiver esses geradores, que acabam diminuindo o impacto do granizo.
A gente sabe que tem muitos produtores que estão investindo em cobertura à tela, mas não temos condições de cobrir todas as áreas.
O que vai ser feito para a reestruturação das feiras na cidade?
No Ponto de Safra, já começou uma reestruturação de bancas, para melhorar a visibilidade. O que queremos com as feiras é tentar fazer um levantamento e um diagnóstico, porque temos várias feiras que foram criadas no passado, que praticamente não se viabilizam mais.
Tem, nos últimos anos, a entrada de pouquíssimos agricultores nas feiras. Até porque, cada vez, as famílias são menores e se sabe que a média de idade do nosso interior está aumentando. Então, temos dificuldade da sucessão das propriedades. Tem a Escola Família Agrícola, que está tendo um papel fundamental, mas, ao mesmo tempo, não tem um aumento de produtores.
A média das famílias no interior é de três pessoas por família. Então, as pessoas não conseguem produzir ao mesmo tempo e frequentar a Feira do Agricultor por vários dias da semana. Por isso que já se observa que algumas feiras não se viabilizam mais.
Secretário, sobre a condição das estradas no interior. A obrigação de conserto é de outras pastas, mas ela influi diretamente na agricultura. Como está a situação?
A gente se reuniu com a Secretaria de Obras na semana passada. As principais (rodovias), se sabe que estão razoavelmente em boas condições, até porque muitas áreas ainda não foram finalizadas. Nas secundárias, que dão acesso à produção, não temos uma estrutura de máquinas. Temos duas máquinas de escavadeira, que, inclusive, estão nas propriedades tentando minimizar e ajudar um pouco na conservação dessas estradas, justamente por escoamento da produção. Mas, com certeza, tem que fazer um trabalho importante nas estradas, depois de tudo que aconteceu, porque o agricultor quer uma estrada em boas condições para escoar a sua produção.