O diretor e roteirista David Lynch, que radicalizou o cinema americano com uma visão artística sombria e surrealista, morreu aos 78 anos, anunciou a família nesta quinta-feira (16).
Em 2024, Lynch revelou que havia sido diagnosticado com enfisema pulmonar após décadas fumando e afirmou que provavelmente não poderia sair de casa para dirigir filmes, segundo a Variety. O cineasta recebeu um Oscar honorário pelo conjunto da sua obra em 2020 e foi indicado quatro vezes à premiação.
A morte de Lynch foi anunciada pela família em um post no Facebook: "Há um grande buraco no mundo agora que ele não está mais conosco. Mas, como ele diria, 'Fique de olho no donut e não no buraco'", escreveram. O diretor foi casado quatro vezes. Ele deixa duas filhas e dois filhos.
Trajetória cinematográfica
David Keith Lynch nasceu em 20 de janeiro de 1946, em Missoula, Montana, nos Estados Unidos. Filho de um professor de inglês e uma cientista do Departamento de Agriculta dos EUA, viveu em diferentes Estados americanos, incluindo Idaho e Pensilvânia, antes de se estabelecer na Filadélfia.
Ainda na juventude, chegou a considerar seguir carreira como pintor, algo que ainda teria contato em sua vida. Porém, decidiu ir por outro caminho. Na Pennsylvania Academy of Fine Arts, Lynch começou a explorar sua criatividade, produzindo curtas experimentais como Six Men Getting Sick (1967) e The Alphabet (1968).
Seu primeiro longa-metragem, Eraserhead (1977), destacou-se pelo humor sombrio e visual perturbador, ganhando status cult. O filme chamou a atenção da indústria e levou Lynch a dirigir outras obras. Entre elas, O Homem Elefante (1980), que conquistou oito indicações ao Oscar, incluindo melhor diretor e melhor roteiro adaptado. Assista ao trailer:
Após o fracasso comercial de Duna (1984), Lynch se reinventou com Veludo Azul (1986), um mergulho no lado obscuro da vida suburbana americana, que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar.
Twin Peaks
No final dos anos 1980, Lynch expandiu sua estética única para a televisão com a série Twin Peaks (1990), criada em parceria com Mark Frost.
Misturando mistério, surrealismo e drama, o seriado conquistou 14 indicações ao Emmy em sua primeira temporada e marcou época com a pergunta "Quem matou Laura Palmer?".
Após duas temporadas e um filme prelúdio, Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992), a série retornou em 2017 para uma terceira temporada, que aprofundou ainda mais o universo enigmático criado por Lynch.
Confira o trailer do seriado:
Outras obras marcantes
Além de Veludo Azul, Lynch dirigiu clássicos como Coração Selvagem (1990), vencedor da Palma de Ouro em Cannes, Estrada Perdida (1997) e Cidade dos Sonhos (2001), pelo qual recebeu o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes e uma indicação ao Oscar.
Multiartista, Lynch também se destacou como pintor, músico e escritor. Ele lançou diversos álbuns musicais, como BlueBOB (2001) e Crazy Clown Time (2011), além de inúmeras obras de arte ao redor do mundo.
Visita a Porto Alegre
Lynch chegou a visitar o Brasil, pela primeira vez, em 2008. A vinda ocorreu para divulgação do seu livro Em águas profundas – criatividade e meditação, onde relata experiências vividas na produção das suas obras. Em Porto Alegre, o cineasta participou do Fronteiras do Pensamento, ocorrido no Salão de Atos da UFRGS.
No livro — e na palestra —, Lynch destacou a importância da técnica de meditação transcendental.
— Meditar te leva a um nível superior, acima do intelecto, no qual a felicidade, o pensamento positivo e, por consequência, a criatividade artística, são infinitas — disse o diretor, na época.