O último ano foi um período "salgado" para os consumidores de carne bovina da Serra. Em relação a 2023, o preço de diversos cortes teve alta ao longo de 2024. Entre os principais aumentos estão o filé mignon, que ficou R$ 16 mais caro, e o coxão de dentro, que encareceu R$ 10,36.
O aumento nos preços é explicado por um conjunto de fatores climáticos e econômicos que ocorreram no ano passado. Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista Alimentícios de Caxias do Sul (Sindigêneros), Volnei Basso, a alta é impulsionada por três fatores:
— A enchente do Rio Grande do Sul, em que houve muita perda de gado, os incêndios na região Sudeste e a maior demanda na exportação de carne bovina. Só as vendas para fora do país no segundo semestre foram responsáveis por 30% no aumento dos preços.
Conforme o doutor em Economia e professor da UCS Mosár Leandro Ness, esse episódio também teve influência da alta do dólar, já que a carne bovina, sendo uma commodity (mercadoria de grande importância no comércio exterior), é cotada internacionalmente.
— Esse alimento sofre influência do preço internacional na Bolsa de Mercadorias & Futuros e isso vem batendo na porta dos açougues à medida que cresce essa valorização — justifica.
Já as enchentes, que atingiram diferentes regiões do Estado, afetaram diretamente no ciclo de desenvolvimento do gado. Segundo Ness, esse foi um dos fatores determinantes para o alta vista nos açougues da cidade e região.
— O ciclo da carne bovina é mais lento que outras proteínas, demandando, no mínimo, três anos para o animal sair da condição de novilho e chegar a ter mais de 300 quilos. Parte dos rebanhos foi perdida ou ficou prejudicada. Com isso, a oferta é mais limitada e não é possível aumentar de uma hora para a outra — pontua.
A análise dos preços feita pelo economista, entre dezembro de 2023 e dezembro de 2024, indicou que, além do filé mignon, corte mais caro entre os açougues, a agulha fechou o período com aumento de 21,8%; o coxão de dentro com 20,9%; e a alcatra com 13,6%. Confira detalhes na tabela abaixo.
Mesmo em alta, consumidores preferem o gado
Apesar da alta registrada no ano passado, os clientes mantiveram o consumo da carne bovina. A sócia proprietária de um mercado no bairro Bela Vista, Jessica Testolin, 32 anos, conta que o estabelecimento conseguiu segurar os repasses de preços durante o ano. Porém, em novembro, quando houve a alta no dólar, o novo aumento chegou ao açougue.
— Gerou uma insatisfação nos clientes, sobretudo no consumidor final. Mas isso não fez com que as vendas baixassem de forma significativa. Inclusive, entre os restaurantes que somos fornecedores de carne, as vendas se mantiveram — comenta.
Em outro supermercado na área central, a sócia proprietária Grasiela Camatti, 43 anos, também viu os preços aumentarem. O estabelecimento, que trabalha sobretudo com carnes vendidas no açougue, registrou venda menor do que em 2023.
— As pessoas continuaram comprando, mas, de maneira geral, foi menos do que no outro ano. A gente notou que carnes de churrasco, como a picanha e a costela de primeira, foram as que menos saíram no ano passado — revela.
Para a consumidora Jaqueline Traiber, 54 anos, os preços elevados fizeram com que ela diminuísse a quantidade de compra que costumava fazer de carne bovina. O frango tem sido o substituto na casa na cliente, que sentiu o aumento dos preços.
— Trocamos os cortes de primeira pelos de segunda. O coxão de dentro foi um dos tipos que parei de comprar. O frango também tem ajudado a dar uma compensada. Mas num geral está difícil comer carne. Lá em casa tem, no máximo, duas vezes por semana — relata.
Expectativa é que preços baixem em 2025
Apesar do ano começar com o consumo de carnes de aves em alta, o primeiro indício de queda no preço da proteína bovina já é visto nos supermercados. Conforme o presidente do Sindigêneros, Volnei Basso, as carnes embaladas têm apresentado uma baixa em relação aos cortes adquiridos diretamente no açougue.
— As carnes embaladas têm uma concorrência maior, sobretudo porque vêm de outros Estados. Já o boi inteiro, aquele do gancho, ainda não teve queda significativa nos preços, porque, geralmente, são animais produzidos na nossa região, que ainda se recupera. O cenário também pode ter influência dos estoques das empresas — explica.
Apesar da oscilação das condições climáticas, que ano no passado impactaram a produção de carnes, a expectativa é de que o custo do corte bovino caia ao longo de 2025, possibilitando maior aquisição da proteína pelos consumidores.
— Com exceção do fim do ano, em que a carne de porco é tradicionalmente mais consumida, as aves lideraram a busca do consumidor. É cedo para projetar o mercado deste ano, mas se as coisas continuarem dessa forma, vemos uma redução nos preços dos cortes bovinos — finaliza Basso.