
Uma nova tentativa de realizar o julgamento de Alexsandro Gunsch, 49 anos, será realizada nesta sexta-feira (25). O réu está preso pelo assassinato da personal trainer Débora Michels Rodrigues da Silva, 30 anos. O crime aconteceu há pouco mais de um ano, em Montenegro, no Vale do Caí.
Gunsch, que era companheiro de Débora, de quem estava em processo de separação, responde por feminicídio. O corpo da vítima foi abandonado na calçada em frente à casa da família.
Na madrugada de 26 de janeiro de 2024, os pais de Débora despertaram com o movimento de policiais militares e vizinhos. Em frente à residência do casal, depositado na calçada, sob um cobertor, estava o corpo da filha.
A polícia identificou o veículo do companheiro de Débora, usado para transportá-la naquela madrugada, por meio de imagens de câmera de segurança. Dois dias depois, Gunsch se apresentou à polícia, confessou que a morte da personal teria ocorrido durante uma briga e foi preso.
Dois dias antes de ser encontrada morta, Débora havia feito a vistoria no imóvel onde planejava recomeçar a vida. Na sexta-feira, a mãe pretendia ajudá-la a arrumar os últimos itens da mudança prevista para o dia seguinte. Mas nada disso aconteceu.
Gunsch, que segue preso na Penitenciária Estadual de Canoas I, será julgado em sessão que deve iniciar às 8 horas. Estão previstas para serem ouvidas seis testemunhas, sendo três de acusação e três de defesa. Será ouvido ainda um perito e interrogado o réu.
Esta é a segunda tentativa de julgar Gunsch. Em março, no começo da sessão, a juíza Débora Vissoni anunciou que o réu havia revogado os poderes da advogada que lhe defendia até então. Como ele não apresentou nova defesa, o julgamento não pode ser realizado. Dias depois, nova data foi agendada pelo Judiciário.
"Estamos condenados a sofrer para o resto da vida", diz pai
— O que nós queremos é justiça. Nós da família, já estamos condenados a sofrer para o resto da via. Não tem como apagar uma coisa dessas na nossa família. Estamos condenados com isso. Uma pessoa dessas tem que pagar. É o que estamos esperando, que seja feita justiça — diz o pai de Débora, Davi Rodrigues da Silva, 72 anos.
A morte de Débora causou comoção no município de Montenegro, onde chegou a ser realizado um protesto. Debby, como era conhecida, atuava como personal trainer desde 2011. Nas redes sociais, ela compartilhava dicas de treinos e rotina na academia.
Formada em Educação Física pela Unisinos, trabalhava numa academia em Montenegro. Dedicada aos cuidados com o corpo, ela também chegou a vencer competições de fisiculturismo. Alexsandro também é fisiculturista.
— Tirar a vida de alguém é uma coisa que não se faz, ainda mais uma pessoa tão íntegra, nova, cheia de alegria, de projetos, de vida. Fazer um crime tão horrível como foi, covarde. O que a gente quer é que seja feita justiça, com rigor. Até para servir exemplo, para outros — diz o pai.
Davi conta que a família vem acompanhando com tristeza os casos de feminicídio ocorridos recentemente no Rio Grande do Sul. Em cinco dias do feriadão de Páscoa e Tiradentes, ao menos 10 mulheres foram vítimas desse tipo de crime no Estado:
— É uma coisa triste demais. O projeto de vida da gente acabou. É uma coisa que não gostaria que nenhuma outra família passasse por isso. Isso nós vamos passar o resto da vida. Só espero que isso sirva de exemplo, que as pessoas pensem duas vezes antes de fazerem um crime desses.
Crime premeditado, para acusação
O réu responde por homicídio qualificado pelo feminicídio, por ter sido cometido contra mulher em contexto de violência doméstica e familiar, motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. A acusação será realizada pela promotora de Justiça Rafaela Hias Moreira Huergo, que terá como assistente de acusação a advogada Samanta Dannus, que representa os familiares da vítima.
Segundo o Ministério Público, o crime teria acontecido de forma premeditada. O casal estava em processo de separação, após 11 anos de relacionamento. O pai de Débora chegou a conversar com o companheiro da filha quando soube que ela pretendia se separar. O homem teria demonstrado que estava tudo resolvido entre eles e que, inclusive, auxiliaria a personal a arrumar as coisas dela. Agora, a família acredita que ele não tenha aceitado o término da relação.
Para a acusação, após esganar a vítima, o homem recolheu o corpo dela, colocou em seu carro e abandonou em frente à casa dos pais dela. A morte, conforme certidão de óbito, foi causada por asfixia mecânica. Para o MP, o motivo torpe se dá em razão do sentimento de posse do réu em relação à vitima.
Contraponto
Zero Hora entrou em contato com o advogado Ezequiel Vetoretti, um dos responsáveis pela defesa de Alexsandro Gunsch. Por nota, o criminalista afirmou que o cliente apresentará todos os detalhes do fato e que há pontos da denúncia que estão "equivocados". Confira a manifestação na íntegra:
"Na qualidade de advogados de Alexsandro Alves Gunsch agradecemos a oportunidade de contraponto e o espaço concedido. Alexsandro está ansioso pelo julgamento, momento em que irá apresentar à sociedade de Montenegro todos os detalhes dos fatos. Não iremos adiantar nossos argumentos, mas afirmamos que, durante a sessão de julgamento, demonstraremos que alguns pontos da denúncia estão completamente equivocados e vão na contramão da prova produzida nos autos. Manifestamos nosso respeito à sociedade de Montenegro, aos familiares das partes e à imprensa, reconhecendo a importância do papel da informação e do interesse público na busca do justo.
Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti"
Quando ouvido pela polícia, Gunsch alegou que, durante uma briga, ele e Débora teriam trocado agressões. O homem afirmou ter agarrado a companheira pelo pescoço, levantado e arremessado contra um guarda-roupas. Neste momento, ela teria começado a passar mal.
O então investigado relatou à Polícia Civil que, na sequência, colocou Débora no carro e, no deslocamento, percebeu que ela já estava morta. O homem disse então ter ficado desesperado com a situação e decidido deixar o corpo em frente à casa dos pais dela.