O novo presidente da Fundação de Assistência Social (FAS) de Caxias do Sul, Samuel Avilla, falou, em entrevista a Rádio Gaúcha Serra, neste sábado (25), sobre as principais demandas do setor para a próxima gestão do prefeito Adiló Didomenico e do vice-prefeito Edson Néspolo. Buscar soluções para as pessoas de rua estão entre os desafios da pasta.
Ávila reforçou que neste primeiro momento está focado no diagnóstico da FAS, que inclui traçar um perfil sobre as pessoas que vivem nas ruas do município. Uma reportagem de agosto do ano passado evidenciou, a partir do cadastro da Fundação de Assistência Social, que o perfil atendido em Caxias é formado majoritariamente por homens, com idade entre 18 e 39 anos.
— Todo o gestor deve trabalhar com dados e informação para depois gerir. Os serviços que são essenciais continuarão sendo executados — afirma.
Embora não tenha mencionado números atualizados, o presidente da FAS disse que a população em situação de rua já chegou a 1,5 mil pessoas em Caxias do Sul. Em janeiro do ano passado, a prefeitura iniciou um trabalho de abordagem e encaminhamento deste público a serviços de saúde e de acolhimento.
As ações seguem ocorrendo e também englobam, neste momento, a conferência dos cadastros do Bolsa Família. O objetivo é atualizar os dados. Conforme a prefeitura, atualmente, cerca de 800 pessoas em situação de rua recebem o benefício.
Caxias do Sul conta com 120 vagas em casas de passagem e realiza cerca 500 atendimentos mensais no Centro Pop Rua, com oferta de banho e alimento.
Confira a entrevista completa
Gaúcha Serra: Como está a FAS nesse momento, quais projetos estão sendo encaminhados, o que deve ter continuidade, o que eventualmente não vai ter continuidade a partir de agora, pelos próximos quatro anos?
Samuel Ávila: assumimos junto com o prefeito Adiló e o vice Edson Néspolo e, num primeiro momento, eu estou muito focado num diagnóstico. Eu chamo de diagnóstico para depois fazer um prognóstico. Todo o gestor deve trabalhar com dados e informação para depois gerir. Os serviços que são essenciais continuarão sendo executados e temos algumas ideias, sim, a desenvolver ao longo do mandato.
Quais seriam esses projetos e essas ideias?
Servir é uma arte e o servir exige entrega, presença, intenção e propósito. E quando se fala de assistência social, a gente sabe da abrangência que tem o trabalho que a Fundação de Assistência deve desenvolver. Até porque a nossa população de Caxias é em torno de 500 mil pessoas ou mais, talvez. E observando números, cheguei na conclusão que nós temos cerca de 85 mil pessoas em situação de pobreza. Isso equivale a 17% a 18% da população da nossa cidade. Portanto, o desafio é muito grande.
Agora, naturalmente que temos algumas dores, que eu chamo, e aliás, dores latentes. Uma delas é os moradores em situação de rua, mas não só isso. Internamente, como é que eu pretendo trabalhar, ou já estou trabalhando: um olho no interno e o outro olho no externo. O que é o interno? É o serviço interno da FAS. Servidores, direção, coordenação, enfim, atividades todas. E o externo é na prestação de serviços a quem paga, a quem mantém essa máquina pública para fazer aquilo que se pode e muitas vezes até o que não se pode, pelos que mais precisam.
Então, eu elenquei aqui pelo menos cinco itens que nós pretendemos focar. O primeiro é avançar na articulação ou busca de soluções aos moradores em situação de rua. Segundo, nós precisamos digitalizar a FAS. Ainda está muito analógico no meu entendimento, e não só no meu. Os demais diretores também chegaram nessa conclusão. Terceiro é melhorias contínuas nos atendimentos. E precisamos também acompanhar a socioeducação em meio aberto, principalmente aqueles que estão em Liberdade Assistida, e PSC, que é a Prestação de Serviços da Comunidade.
E creio também que precisamos avançar e promover mais parcerias com as Organizações de Sociedade Civil. O poder público não consegue fazer tudo. Isso é fato. Então, se Deus quiser, vamos avançar nisso também.
O senhor mencionou a questão das pessoas em situação de rua, e talvez esse tenha sido o maior desafio dos últimos anos, ou pelo menos é o mais visível à população, porque é perceptível um aumento da quantidade de pessoas em situação de rua. O prefeito muitas vezes também tem mencionado como Caxias tem sido muito procurada por pessoas que vêm de fora. E tem sido feito nos últimos tempos um trabalho recorrente de abordagem, de convencimento, para que essas pessoas busquem um abrigo. O que pode ser feito para incrementar essa questão do atendimento a pessoas de situação de rua? E hoje, Caxias teria vaga para todas elas? Não sei se o senhor tem um balanço, por exemplo, de quantas pessoas estão nessa situação hoje.
Bom, atender a todos hoje não temos estrutura. Com certeza. Por isso eu falei ali no avanço em parcerias com as OSC, porque quando o poder público não consegue fazer tudo, nós temos que procurar parcerias. Os números oscilam muito. Veja bem que já chegou a 1,5 mil pessoas em situação de rua, e hoje nós temos um pouco menos.
A abordagem vem sendo feita, ela continuará sendo feita, e vamos procurar sim atender da melhor forma possível. É um assunto muito complexo, se alguém tiver a varinha de condão, como se diz, já teria resolvido.
É um problema recorrente no mundo, não é só no Brasil, muito menos somente em Caxias. Agora, de uma coisa estejam certos, nós, no planejamento estratégico, já começamos a discutir e fazer até alguns encaminhamentos, vamos enfrentar esse problema, se Deus quiser.
Sempre há ferramentas, e eu faço até aqui um apelo público, já que com certeza muita gente está nos ouvindo. Se alguém tem sugestão, tem ideias, esse presidente está muito aberto a ouvir. Aliás, a escuta para mim é muito importante nesse momento, para depois a gente agir.
Então, três coisas para mim são fundamentais, planejar, executar, avaliar.
Um outro assunto que vem mobilizando também a opinião pública nos últimos dias, a exemplo do que vem sendo feito em Bento Gonçalves, Caxias também está intensificando as auditorias nos cadastros de beneficiários do programa Bolsa Família. Como é que está esse processo? Ele vai continuar?
Continuar, intensificar, inclusive a partir de segunda-feira, dobrar o número de servidores na rua, para que a gente possa desenvolver esse trabalho com muita precisão.
Como é que funciona esse trabalho? Quer dizer, se faz a auditoria, se verifica se a pessoa realmente se enquadra nos critérios do Bolsa Família, e se hoje ela recebe e não se enquadra nos critérios, se tem um trabalho de recolocação dela no mercado?
Bom, o nosso servidor, que atua especificamente nessa área, ele vai fazer a visita. O que acontece é que, muitas vezes, a gente não encontra, e quando não encontra essa pessoa, automaticamente não tem como desenvolver algo mais profundo.
Então, a grande maioria não se encontra, principalmente no que tange o pessoal em população de rua, porque é muito rotativo, está aqui, está ali, está lá, e a gente focou no primeiro momento para identificar esses cadastros, e aí, naturalmente, não encontrando, é bloqueado com certeza.
Voltando aqui ao ponto das pessoas em situação de rua, qual é o perfil hoje que a FAS identifica que predomina entre essa população?
Eu até pedi exatamente qual é o perfil para os nossos técnicos, e eles estão fazendo esse levantamento, porque nós temos muitas informações. A própria Secretaria de Segurança também tem os seus números e faz o seu trabalho. Depois das enchentes, muita gente veio para a Serra gaúcha, principalmente da grande Porto Alegre.
Então, o pessoal que está em débito com o Poder Judiciário, pessoal de diversas áreas, diversas linhas... Eu não tenho preciso ainda, mas já pedi isso, e terei nos próximos dias para daí sim, como eu falei, ter um diagnóstico, depois um prognóstico, senão entendo que fica muito amador falar A, B ou C.
Mas é possível, por exemplo, se ter uma noção se predomina usuários de drogas?
As informações preliminares são de cada dez, 9,9 têm envolvimento com drogas. Então, quando se trata disso, é uma situação bem complexa, porque, enquanto gestor, se olha como um assunto de segurança pública ou um assunto de saúde, ou somente de assistência?
Então, fica a primeira grande pergunta, e é por aí que a gente precisa identificar para saber realmente se a questão de segurança pública tem o seu destino, se é saúde, nós temos que tratar quem está doente. Então, é por aí o raciocínio.