Depois de oito meses, Eduardo Brino, 25 anos, e a cachorra de estimação Molly se reencontraram no último domingo (22). Os dois foram separados pela catástrofe climática que atingiu o Estado.
Em 30 de abril, deslizamentos atingiram propriedades de Roca Sales, no Vale do Taquari, como na Linha Marechal Hermes. A família de Brino vivia lá há 78 anos. Os avós Elirio e Érica, ambos de 78 anos, os pais Dorly, 57 e Janice, 49 e as duas irmãs, Maria Eduarda, 20, e Gabriela, 9, morreram na catástrofe climática. A cadela também estava no terreno e foi encontrada por bombeiros militares com vida sete dias depois dos desmoronamentos. Já o jovem estava em casa, em Muçum, quando tudo aconteceu.
Desde então, Molly estava sob cuidados da Organização Não-Governamental (ONG) Adote Um Miau e da clínica veterinária São João, ambas de Caxias do Sul. Ela recebeu alta recentemente e de surpresa, os integrantes do grupo apareceram na nova casa de Brino e da esposa, Luana Dutra, 24, em Muçum para levar Molly de volta para casa.
As voluntárias chegaram em Muçum ainda pela manhã. Parecia uma visita normal para Brino, até que Molly apareceu. Logo, os dois se reconectaram. Como conta Valeska Boufleur, 47, da ONG, o momento "foi lindo". Familiares do casal também acompanharam o reencontro e ficaram felizes pelo retorno.
Na terça (24), Brino contou como Molly está feliz e com bastante energia. A cachorra, como descreve o dono, adora passear.
— Para mim foi uma surpresa (o reencontro). Eu não sabia. Só a minha mulher sabia. Ela está contente, sempre na porta, esperando — conta Brino.
O resgate de Molly
Molly ficou sete dias soterrada na propriedade em Roca Sales, onde pelo menos outros 450 animais morreram. Ao ser encontrada pelos bombeiros em 7 de maio, eles caminharam alguns quilômetros até chegar ao helicóptero usado para o resgate de sobreviventes. Dali, foi levada a Muçum para atendimento na base montada pela ONG caxiense. Naquele dia mesmo, a cachorra, sem raça definida, foi levada a Caxias.
— Eu, para mim, a Molly é um milagre. Eu fui lá (em Roca Sales) diversas vezes e eu me surpreendo que ela estava lá — afirma Valeska Boufleur, que transportou a cachorra a Caxias e acompanhou todo tratamento.
Além do resgate de Molly, a ONG criou bases no Vale do Taquari para auxílio da população e também dos bichos resgatados que permaneceram na região. Valeska calcula que mais de 2,1 mil animais receberam alimentação durante a crise climática a partir do movimento.
O médico veterinário Nardeli Lucena, 80, diz que em mais de 50 anos de carreira nunca viu uma cachorra tão dócil. Lucena recorda que Molly chegou na clínica veterinária com fraturas múltiplas em duas patas, além de estar bastante desidratada. Os veterinários Alessandro Lucena e André Palandi, além da integrante da ONG, Leonice Vazzaro, também fizeram parte da equipe que auxiliou no resgate e recuperação.
— Estabilizamos ela, hidratamos e começamos com antibiótico, e depois começamos a fazer cirurgias — relembra o médico veterinário.
Foram pelo menos seis cirurgias para tentar salvar as patas. Molly acabou perdendo apenas o membro traseiro do lado esquerdo. Paciente com mais tempo de internação na clínica caxiense, ela tornou-se parte da vida de todos, tanto que reconhece de longe a voz do médico veterinário e alegra-se ao vê-lo.
— É uma cadela do bem. O trabalho foi gratificante. Foi uma equipe (da clínica), com anestesista, com outro cirurgião também. Agora, ela está bem, está saudável — afirma Lucena.