A suposta venda de um terreno ao lado do Colégio Estadual Imigrante, em Caxias do Sul, que pertence ao Estado, está causando alvoroço na comunidade escolar. Inconformado com o fato de a escola não poder mais usufruir do espaço, o diretor Leandro Fanchin renunciou ao cargo recentemente. A nova diretora, Simone Lorandi Comerlato, afirma que o terreno foi doado à escola em 21 de setembro de 2010 e que busca uma audiência com o Governo do Estado para tentar resolver a situação.
De acordo com a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (SPGG), o terreno está em processo de desafetação, o que significa que deixará de ficar sob responsabilidade da Secretaria Estadual da Educação (Seduc) e passará para o Governo do Rio Grande do Sul. Este procedimento é necessário quando um imóvel público muda de propósito. Contudo, ambas as secretarias confirmam que o terreno não estaria vendido e que o Estado ainda estuda o que fará com o local.
A SPGG esclarece que o terreno foi registrado para o Estado em 31 de agosto de 2010, quando foi cedido em razão de dívida pela Madezatti, empresa que ocupava o lugar. Na ocasião, o imóvel tinha valor de mercado avaliado em R$ 6,3 milhões. A Seduc diz que o espaço ao lado do Colégio Imigrante é de propriedade do Estado e que "e a área da referida instituição de ensino, onde fica localizado o prédio da escola e os estudantes têm aula, não sofrerá qualquer mudança".
O entendimento da comunidade escolar e direção do Imigrante é diferente. Com um documento de posse, a direção se sentia responsável pelo terreno anexo ao colégio e realizou melhorias, com apoio dos pais e grupo de escoteiros, nos últimos anos. Na área, foi feita uma estufa para cultivo de alimentos e área para estacionamento de vans.
— Temos um documento dizendo que este terreno foi doado para a escola durante governo Yeda Crusius. Foram feitas benfeitorias e há projeto para ampliar a nossa escola, com mais seis salas, aumentar refeitório e os laboratórios e obras para prática esportiva dos alunos. Realmente, perder este terreno vai ser muito triste. Estamos tentando fazer o possível para reverter a situação — aponta Simone, que assumiu como diretora do colégio em 26 de julho.
O ex-diretor Fanchin afirma que a recente negociação do terreno aconteceu de forma sigilosa, sem consulta ao colégio. Ele só ficou sabendo durante uma audiência com o Ministério Público (MP) sobre o muro da escola, que está danificado e com risco de cair.
— Nesta audiência a juíza perguntou sobre este terreno, que expliquei pertencer à escola, mas a responsável pela 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE) (Viviani Vanessa Devalle) respondeu que não é mais do Estado, que foi vendido. Sabemos que era cedido, patrimônio é do Estado. Não houve sensibilidade de entender o quanto esse terreno é útil para escola — afirma.
Procurada pela reportagem, a 4ª CRE respondeu que não foi comunicada sobre a suposta venda do terreno. Sobre as reclamações da comunidade escolar, a coordenadora Viviani declarou que o que existe são "boatos e disse-que-disse" e que buscaria informações oficiais.
— Esse terreno nunca foi da escola, é do Estado. Estava em estudo para vender, porém não sabemos se foi realmente vendido porque não recebemos nenhuma informação oficial. O que acontece é que, uma época, a escola utilizou este terreno porque estava ocioso, mas nunca foi da escola — afirma a coordenadora Viviani.
Uma das preocupações da comunidade escolar do Imigrante, sem o terreno, é com a segurança dos alunos, principalmente durante a troca de turnos. O desejo era que este terreno fosse utilizado como uma saída lateral para os alunos, diminuindo o risco de acidentes na entrada principal na Rua Antônio de Gasperi, considerada estreita. O colégio Imigrante atende a mais de 1,5 mil estudantes nos três turnos.
— Não há o que possa ser feito. É uma entrada só na frente da escola e a gurizada sai muito rápido. O bom era ter este espaço cercado (no terreno). Se voltarmos ao procedimento antigo, de van, ônibus, pais e crianças correndo... é muita gente para pouco espaço — lamenta a Alessandra Resmini, vice-presidente do Conselho de Pais e Mestres (CPM).
— Em 2014 teve uma intenção de venda. Agora, se tivessem consultado a comunidade escolar, teria sido justificado que este terreno é essencial para nós. O que temos (acesso principal) é diretamente para rua, o que é perigoso. Este terreno dava mais segurança aos alunos — corrobora a diretora Simone.
Em março de 2019, a então vereadora Paula Ioris (PSDB) intermediou uma reunião do diretor da empresa Tok Plast Metal com o então secretário de Educação do Estado, Faisal Karam. O empresário propunha uma permuta do terreno em troca de reformar e mobiliar o Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza. A vice-prefeita Paula afirma que, na ocasião, fez apenas a intermediação do contato, mas que não acompanhou ou soube de novidades sobre o terreno ou a permuta". O empresário garantiu, na tarde desta quarta-feira (4), que a discussão sobre a permuta de 2019 não avançou e que não tem interesse no terreno citado.