Quem depende do transporte coletivo para se deslocar ao trabalho ou outras atividades em Caxias segue enfrentando o risco de encontrar um ônibus com mais passageiros do que o recomendável. Embora a Secretaria de Trânsito garanta que tem conseguido reduzir o problema na maior parte dos casos, os próprios fiscais ainda encontram veículos com o número de passageiros além do permitido, mesmo que seja a minoria. Os problemas são identificados nos horários de pico da manhã e, principalmente, do fim da tarde.
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O decreto em vigor em Caxias do Sul segue as determinações do programa de distanciamento controlado do governo do Estado. Dessa forma, com a bandeira laranja, praticada na última semana, o limite de passageiros fica em 60% da capacidade do coletivo, independentemente de estarem em pé ou sentados. Em caso de adoção da bandeira vermelha, contudo, o máximo cai para 50%.
Pelo menos desde o início de maio fiscais têm acompanhado as linhas para verificar a quantidade de passageiros e o cumprimento das viagens. Diante da persistência do problema e das reclamações, na última segunda-feira (29) a quantidade de fiscais passou de oito para 16.
Conforme o gerente de trânsito e transportes da Secretaria de Trânsito, Evandro Rech, o aumento do quadro de servidores permite o acompanhamento de 100% das linhas. No entanto, a solução do problema depende dos ajustes operacionais propostos a partir da identificação do excesso de passageiros pelos fiscais, já que ninguém é obrigado a desembarcar do ônibus quando o limite é ultrapassado.
Na última semana, a pasta constatou que entre 0,1% e 0,5% de todos os passageiros transportados estavam em coletivos que ultrapassaram a limitação. Segunda-feira, primeiro dia da fiscalização mais rigorosa, foi identificado excesso de 0,24% de passageiros, percentual que caiu para 0,13% na terça-feira (30). O número contudo subiu para 0,61% na quarta-feira (1) e ficou em 0,52% na quinta-feira (2). Na sexta-feira (3), o excesso ficou 0,35%, identificado em três linhas de 25 fiscalizadas. Em junho, dos 98.359 usuários que estavam nas linhas vistoriadas, 1.623 pessoas ocupavam coletivos além do limite, um índice de 1,65% para o mês.
Segundo Evandro Rech, assim que o problema é identificado, a Visate é acionada para reforçar a linha. A partir disso, se estudam adequações para evitar que as aglomerações se repitam. Contudo, ele afirma que há situações inesperadas.
Um exemplo é a linha Iracema, que voltou a ter problemas na quinta-feira (2) após passar por uma revisão completa de horários após ser identificada como uma das que mais tinha passageiros além do limite. Em um ônibus com capacidade máxima de 61 passageiros, foram identificados 56, às 18h12min, ou seja, um excesso de 91,8%. Seis minutos depois, um ônibus da mesma linha tinha apenas 33 pessoas, enquanto um terceiro ônibus, às 18h20min, tinha 17 passageiros.
— A linha Iracema tínhamos dados como resolvido. Estamos investigando e vamos ver o que aconteceu, se a demanda aumentou repentinamente ou se houve falha da concessionária, e aí ela será autuada. Não controlamos só o número de passageiros, mas também os disparos nos bairros, para ver se a concessionária está cumprindo os horários. Os excessos têm ocorrido mais no fim da tarde. O que queremos é diminuir por completo — alerta Rech.
Segundo Rech, a Visate já chegou a ser autuada duas vezes durante a pandemia por descumprimento de voltas linha Cruzeiro. Procurada, a concessionária disse que atende ao percentual de capacidade máxima conforme a cor da bandeira do distanciamento controlado e que divulga nas redes sociais os índices de ocupação identificados nas fiscalizações. Sobre as autuações, a empresa diz que apoia a fiscalização e que está à disposição para cumprir as determinações do poder público, assim como realizar melhorias na medida do possível. A Visate também diz que a operação durante a pandemia ocorrem em caráter de emergência e alterações de horário podem ocorrer diariamente. Por isso recomenda aos passageiros buscarem informações no site www.visate.com.br, na central de atendimento, pelo número 0800.0516133 ou pelo WhatsApp (54) 99605.3935.
Pouca superlotação pela manhã
Ao longo da última semana e também no dia 26 de junho, a reportagem acompanhou a circulação dos ônibus em diversos pontos da cidade. A verificação ocorreu nas primeiras horas da manhã, entre 6h15min e 8h, nos principais corredores que ligam todas as regiões da cidade ao centro.
Na maior parte dos casos, o que se percebeu foram ônibus com o número de passageiros dentro do limite ou praticamente vazios, em alguns casos. No entanto, a reportagem identificou uma grande quantidade de pessoas na linha Planalto/São Victor na manhã de segunda-feira (29). No ônibus que chegou na Estação Principal de Integração (EPI) Imigrante, às 6h31min, era possível perceber uma grande quantidade passageiros em pé e todos os bancos ocupados. Os demais veículos da linha observados enquanto chegavam à estação estavam dentro do limites, embora tivessem mais gente na comparação com outras linhas.
Passageiros ouvidos pela reportagem também não relatam problemas generalizados de superlotação no sistema, especialmente pela manhã. O auxiliar geral Rodrigo de Castro, 28 anos, por exemplo, afirma nunca ter presenciado ocupação excessiva. Ele pega o ônibus todas as manhãs na Avenida São Leopoldo para seguir até a Rua Sinimbu. De lá, pela a linha Troncal até a EPI Imigrante, onde embarca na linha Campos da Serra
— Excesso não tem e o pessoal está respeitando, usando as máscaras, só que diminuíram os horários. Todos os dias estão modificando os horários e na EPI não informam — reclama.
Já a auxiliar de limpeza Lilian Portes, 38, relata lotação na linha Troncal pela manhã e no fim da tarde. Ela costuma utilizar o itinerário a partir da EPI Floresta, onde faz a integração com a linha Verona.
— O Verona geralmente vem bem tranquilo às 6h30min. No fim da tarde tem um pouco mais de gente, não chega a ser superlotado, mas vai gente em pé. Às 6h50min o Troncal vai com bastante gente, bem lotado e no fim da tarde também — relata.
Apesar do relato, colhido na manhã de sexta-feira (3), a reportagem não notou superlotação na linha Troncal durante o período de observação. O gerente de trânsito e transportes da Secretaria de Trânsito, Evandro Rech, justifica que o fato de ter passageiros em pé não significa necessariamente que o ônibus excedeu o limite de 60%, embora muitas vezes possa passar essa impressão:
— Todos nós estamos muito assustados. Às vezes pode parecer lotado, mas tem oito ou 10 pessoas em pé. Entrar em um ônibus hoje com pessoas em pé realmente causa uma sensação bem estranha — afirma.
Maior restrição não é descartada
Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje, da Gaúcha Serra, nesta segunda-feira (6), o secretário de Trânsito, Alfonso Willembring, disse que não se descarta eventual ampliação das restrições no transporte coletivo. Contudo, o foco da administração é o aumento do número de ônibus para evitar as aglomerações. Willembring acompanhou a movimentação na semana passada, e disse considerar que 50% de ocupação, em caso de bandeira vermelha, não é o limite ideal para o distanciamento.
— Um ônibus articulado tem capacidade de até 160 pessoas, contando em pé e sentados. Você vai colocar 80 pessoas naquele ônibus, a sensação de lotação é muito grande. Da mesma forma ônibus menores e a população percebe isso. Grande parte das reclamações que recebemos tem a ver com isso. 50% da capacidade acho muita gente dentro de um veículo, mas é assim que está escrito (no decreto estadual). Semana passada embarquei nos ônibus, conversei com passageiros e mesmo estando com lotação adequada sentimos a proximidade maior. Percebemos as situações e tentamos ingressar com novos ônibus naquela linha. Se verificarmos que não está suficiente, teremos que adotar uma medida mais forte — revela.
De acordo com Willembring, atualmente o fluxo de passageiros no transporte coletivo está abaixo dos 50 mil por dia. Antes da pandemia, a média ficava entre 130 mil e 150 mil. Para esta semana, que coincide com pagamento de salários e auxílio emergencial, há uma expectativa de aumento de fluxo. Por conta disso, e também pela possibilidade de manutenção de bandeira vermelha, o secretário afirma que a frota em circulação deve aumentar.
A observação
Sexta-feira, 26/06 - Linhas entre a zona norte e o centro via BR-116
A reportagem observou 19 ônibus e não constatou nenhum com quantidade excessiva de passageiros. A linha com o maior número de passageiros foi Castelo/Marianinha às 7h06min, com 10 pessoas em pé. Usuários ouvidos pela reportagem em um ponto de ônibus disseram já ter visto lotação nas linhas Serrano e Iracema, mas não sempre.
Segunda-feira, 29/06 - EPI Imigrante, que concentra as linhas da zona leste
Dos 22 ônibus verificados, apenas o da linha Planalto/São Victor que chegou na estação às 6h31min estava lotado. Outros ônibus da linha que chegaram na sequência tinham passageiros em pé, mas dentro dos limites. A auxiliar de limpeza Andréia Bento Lima, 45 anos, utiliza a linha Cruzeiro e disse que a situação melhorou ao longo da pandemia.
- No início vinha lotado, agora melhorou, vem quase vazio.
Terça-feira, 30/06 - Linhas entre a zona norte e o centro via Rua Moreira César
Foram observadas 30 ônibus, sem que houvesse excesso. Passageiros ouvidos relataram nunca terem enfrentado superlotação. Entre os veículos verificados pela reportagem, o da linha Fátima das 7h27min tinha cerca de 10 pessoas em pé.
Quarta-feira, 01/07 - Linhas entre a zona sul e o centro via Avenida Rio Branco
Observados 16 ônibus sem que houvesse lotação. A maior parte passou praticamente vazia. Passageiros também relataram nunca ter observado superlotação durante a pandemia.
Quinta-feira, 02/07 - Linhas entre a zona sul e o centro via Avenida São Leopoldo
Dos 17 ônibus observados, quatro, das linhas Aeroporto, Vila Lobos e Santa Corona, tinham poucas pessoas em pé. As demais tinham, inclusive, assentos vagos
Sexta-feira, 03/07 - EPI Floresta, que concentra as linhas da zona oeste
Foram observados 26 ônibus. Alguns veículos das linhas Troncal, Santa Tereza e Reolon/Mariani tinham poucos passageiros em pé, sem exceder a limitação. O técnico de segurança Augusto Veiga, 38 anos, relatou lotação na linha Forqueta, embora a reportagem não tenha notado problemas. A Secretaria de Trânsito disse nunca ter identificado problemas significativos na linha Forqueta.