O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
A insatisfação do PL com a candidatura de Marcel Van Hattem (Novo-RS) à presidência da Câmara afetou a relação entre o deputado e o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e pode dificultar a formação de uma aliança nas eleições de 2026. No pleito, o gaúcho pretende concorrer ao Senado por uma frente de partidos de direita que inclua o PL.
A manutenção da candidatura de Van Hattem e os 31 votos recebidos, parte deles do PL, motivaram a reação na legenda, que fechou apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB) em troca de espaços internos na Casa.
Filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro acusou Van Hattem via redes sociais de "dividir a direita" e buscar palanque para a próxima eleição ao divergir da orientação do ex-presidente.
Maior expoente do PL no RS e favorito para concorrer a governador, o deputado federal Luciano Zucco também afirmou, em manifestação à coluna, que Marcel jogou para "dividir a direita" e "está claramente em pré-campanha".
"Quanto a 2026, ainda teremos tempo para discutir um bloco que trabalhe de forma unida e não individualmente. Política é construção, diálogo, parceria. E isso tudo pesará muito quando montarmos as chapas e estratégias", escreveu Zucco (leia a íntegra abaixo).
Deputado minimiza reação
Van Hattem atribuiu a reação de Eduardo aos "ânimos acalorados" do momento e disse que o episódio não vai interferir na discussão sobre a composição em 2026.
— Não tem nenhum atrelamento a eleição à presidência da Câmara com a eleição de 2026 — garantiu.
O deputado não esconde o desejo de concorrer a senador por uma coligação que reúna "o máximo possível de apoio na direita", incluindo o PL e o PP, seu antigo partido.
— Temos de trabalhar em uma convergência de partidos como PL, PP e Novo e decidir como andar na eleição do ano que vem — disse Marcel, que também tem conversado com deputados de outras siglas, como PSDB e MDB.
Nos bastidores, aliados do deputado acreditam que a situação é contornável, sobretudo pela reação do público bolsonarista nas redes sociais, que se mostrou mais favorável à postura de Van Hattem do que ao acordo com Hugo Motta.
Leia a íntegra da manifestação enviada por Luciano Zucco
Aqui eu não quero nominar ou personalizar. Mas um deputado que se diz experiente, que sabe que teria uma votação inexpressiva, jogar para dividir a direita após a orientação do presidente Bolsonaro, está claramente em pré-campanha.
Nos últimos dois anos, o PL soube ocupar espaços estratégicos no comando da Câmara dos Deputados por entender a dinâmica da política. Presidimos a Comissão de Constituição e Justiça, por exemplo, com a deputada Caroline de Toni, onde conseguimos avançar na pauta da liberdade para os presos do 8 de janeiro. Sem ela, seria impossível levantar esse debate.
Na Segurança Pública sob o comando do deputado Sanderson, pautamos e aprovamos um pacote de projetos para melhora o combate ao crime organizado, convocamos ministros para dar explicações. Na Educação, com Nikolas Ferreira, fomos trincheira contra a doutrinação nas escolas e pudemos participar ativamente do Plano Nacional de Educação. E Bia Kicis foi a primeira deputada mulher a presidir a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.
Agora, temos o vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes, a oportunidade de presidir 4 comissões, entre elas a Comissão de Relações Exteriores, cuja indicação é o deputado Eduardo Bolsonaro, um colega totalmente preparado para o cargo. E vamos poder brigar por relatorias importantes e fazer um trabalho profissional e responsável de fiscalização do governo federal. Hoje, somos a maior bancada, e temos que trabalhar estrategicamente para um dia lançar nosso próprio candidato. Se fizéssemos isso agora, entraríamos no mais completo isolamento.
Quanto a 2026, ainda teremos tempo para discutir um bloco que trabalhe de forma unida e não individualmente. Política é construção, diálogo, parceria. E isso tudo pesará muito quando montarmos as chapas e estratégias.