O servente de pedreiro Milton Valério, 49 anos, perdeu as contas de quantas enchentes enfrentou na vida. Desde sábado, vive mais uma. Junto de uma centena de famílias, Valério teve de deixar a casa onde mora, no bairro Navegantes, em São Sebastião do Caí, em razão da cheia do rio que corta o município de 24,8 mil habitantes. Não tem perspectiva de voltar tão cedo.
– A coisa está complicada. Pelo menos a gente conseguiu tirar tudo de casa antes da inundação – diz Valério, que na manhã deste domingo percorreu a vizinhança de canoa.
A chuva que cai sobre o Rio Grande do Sul desde sexta-feira elevou o nível do Caí a 12m60cm, 10 a mais do que o nível normal. Em outubro de 2016, uma chuvarada parecida fez o rio transbordar ao ponto de cobrir 65% da zona urbana. O temor é de que o problema se repita.
– Daquela vez, o nível chegou a 14m80cm. Ainda temos uma folga, mas a previsão do tempo para os próximos dias preocupa – diz o coordenador da Defesa Civil municipal, Pedro Griebler.
No sábado, o órgão alertou a população sobre o rápido avanço do leito, que chegou a subir 70 centímetros por hora no início do dia. As remoções nos bairros Navegantes começaram quando a água chegou às calçadas e se aproximou das residências. Até a manhã deste domingo, 32 famílias haviam ingressado no Centro Integrado Navegantes, mantido pela prefeitura.
– É a minha quarta enchente. O brabo é ter de limpar tudo outra vez – lamenta a aposentada Silvia Maria de Azevedo Pereira, 66 anos.
As demais famílias removidas pela Defesa Civil foram recebidas por parentes e amigos. Ao todo, 960 residências foram afetadas, mas nem todos os moradores saíram de casa.
– Se precisar, a gente carrega tudo para o andar de cima – justifica a costureira Márcia Gomes, 51 anos, torcendo pela melhora do tempo.
Na manhã deste domingo, a chuva deu uma trégua, e a velocidade de subida do Caí se reduziu para 10 centímetros por hora. Mesmo assim, a Defesa Civil permanece em alerta.
– Seguimos acompanhando a evolução da cheia de hora em hora para, se preciso, agir preventivamente. Aqui, ninguém vai ser pego desprevenido – assegura Griebler.
Quem quiser ajudar os atingidos com doações, deve entrar em contato com a Defesa Civil de São Sebastião do Caí pelo telefone (51) 3635-2534 ou diretamente na Rua Pinheiro Machado, 1.110.