Durante os 15 dias em que permaneceu em coma num hospital, Lorena Boff Corso ouvia os familiares ao seu redor, muitas vezes rezando para que ela acordasse do sono profundo. Não tinha reações, mas não deixava de pensar que logo conseguiria passar do estágio que a separava da morte. O drama aconteceu há 15 anos, trouxe sofrimento e deixou sequelas – algumas graves, como a perda da visão de um dos olhos. Aquele período hoje é lembrado como um divisor de águas na vida da caxiense de 56 anos.
Assim que voltou para casa, após o coma, para ser cuidada pelos filhos Aline e Matheus, e pelo marido Daniel, Lorena pensou numa forma de multiplicar histórias que, por algum motivo, pudessem inspirar, assim como a dela. Íntima das letras, graças ao gosto pela leitura e pelos anos em sala de aula, rascunhou frases sobre sua trajetória. Percebeu que deveria ouvir relatos de vida e entrevistou vizinhos, parentes e até desconhecidos. Essas histórias se transformaram em publicações encadernadas, que, por sua vez, foram presenteadas aos protagonistas.
– Muitas vezes, as pessoas só precisam saber o quanto são importantes para mudarem de vida. Meus textos, por mais simples que sejam, podem inspirar alguém com problemas, podem deixar alguém feliz – espera a caxiense, que, como "pagamento" pelos livros, pede um convite para um chá ou um abraço apertado.
Lorena escreveu quatro livros. Conheceu personagens e escolheu as histórias que faziam seu coração bater. A primeira foi a vida da mãe, Genoefa, hoje com 90 anos. Referência para oito filhos, ela também ostenta o título de bisneta de Anna Rech, italiana que deu nome à localidade de Caxias.
– Esse livro foi especial. Minha mãe mostra o livro para todos que chegam na casa dela. Com os textos, quis incentivar outras pessoas a não desistir diante das dificuldades, e ainda elevei a autoestima dos personagens dos meus livros – orgulha-se Lorena.
Depois de Genoefa, a caxiense contou a história de uma cadeirante, catequista há mais de 20 anos e que não mede esforços para passar pelas barreiras físicas, de uma senhora cega que escreve livros, e de uma mulher que vive com meio rim e realiza um amplo trabalho social. A última, escrita neste ano, é de amor. Fala sobre João Sadi, 76 anos, e Maria Cecília, 72, que namoraram na juventude e se reencontraram depois de 53 anos. Hoje, estão noivos.
São finais felizes assim que deixam Lorena radiante e a fazem buscar por novos personagens.
Exemplos de superação
O problema de saúde enfrentado por Lorena há 15 anos é visto como um sinal. Por meio de uma tomografia, solicitada para achar a origem de uma dor de ouvido, médicos descobriram uma dilatação anormal de um vaso sanguíneo. Em pouco tempo, ela sofreu um aneurisma e passou por cirurgia.
– Deus nos dá sinais. Só estou aqui porque é para eu estar. Minha situação era gravíssima, estava desenganada, os médicos chegaram a acreditar que não sairia do hospital. Me recuperei e pensei: minha missão na Terra será importante, vou em busca de exemplos de superação – conta a professora municipal, hoje aposentada por invalidez.
Lorena ainda sofre com dores de cabeça e falta de equilíbrio, sequelas do aneurisma, mas dificilmente tira o sorriso do rosto. Acha que o bom humor é sua marca e gostaria que a alegria não faltasse na história de sua vida. Também ajuda ao próximo sendo voluntária de um asilo e acredita que a gratidão é o melhor dos sentimentos:
– Tem uma frase que meu pai falava: se gritar resolvesse, porco não morria. Ou seja, não adianta espernear, se tiver que acontecer, vai acontecer. Por que não fazer tudo sorrindo?