
“No final, será algo maravilhoso”, disse nesta quinta-feira (10) o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao defender sua política tarifária, que tem como objetivo reindustrializar o país. Apesar dos "custos" e "problemas" envolvidos, além da instabilidade nos mercados, o presidente afirmou que os sacrifícios valerão a pena.
— Haverá um custo de transição e problemas de transição — reconheceu durante uma reunião de seu gabinete, antes de garantir:
— Mas no final, será algo maravilhoso.
Com a medida, Trump tenta reorganizar a economia mundial obrigando os fabricantes a se instalarem nos Estados Unidos ao aumentar as taxas de importação sobre produtos e insumos fabricados em outros países.
Minutos depois, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que não viu “nada incomum hoje” nos mercados.
Wall Street, que abriu em queda, despencou ao longo do dia (com índices caindo cerca de -4% por volta das 15h GMT).
O petróleo e o dólar também registraram quedas acentuadas em meio a temores de uma desaceleração global da atividade. O ouro atingiu um novo recorde histórico.
China x EUA
Na quarta-feira, o presidente norte-americano deu um giro de 180 graus ao focar o ataque na China – após revide de Pequim – e dar um pequeno alívio aos demais parceiros comerciais, que, no entanto, continuam sujeitos a tarifas alfandegárias adicionais de 10% sobre suas exportações para a maior potência mundial.
Nesta quinta-feira, a Casa Branca esclareceu em um decreto que isso representa elevar as tarifas alfandegárias para 145%, já que os 125% se somam aos 20% aplicados à China no âmbito da luta contra o tráfico de fentanil, um opioide sintético que causa devastação nos Estados Unidos.
E esclarece os termos: a sobretaxa afetará a maioria dos produtos chineses, mas não todos. Ficam isentos, por exemplo, os semicondutores. E esses encargos se somam às tarifas existentes antes do retorno de Trump à Casa Branca em janeiro.
China pede "respeito mútuo"
Isolada em sua luta contra o governo dos EUA, Pequim continua enfrentando Washington. Promete “lutar até o fim”, sem, no entanto, fechar a porta para um compromisso.
— A porta está aberta para negociações, mas esse diálogo deve ocorrer em pé de igualdade e com base no respeito mútuo — advertiu o Ministério do Comércio chinês.
À espera de um possível acordo, Pequim anunciou que reduzirá o número de filmes americanos exibidos em seu território.
Recuo
Depois do contragolpe chinês, Trump recuou na briga contra as demais vítimas de suas "tarifas recíprocas": ele suspendeu por 90 dias as taxas para quase 60 parceiros comerciais, incluindo a União Europeia (UE).
Com o recuo, o bloco suspendeu sua resposta de possiveis retalições para “dar uma chance às negociações”, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Se não houver avanços, entrará em vigor as contramedidas anunciadas pela UE sobre produtos americanos.
O principal assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, garantiu à CNBC que a taxa mínima universal de 10%, em vigor desde sábado, provavelmente será mantida. Segundo ele, Washington precisava “criar pressão suficiente” sobre seus parceiros para repatriar as atividades industriais aos Estados Unidos.
A ofensiva alfandegária obriga uma movimentação no cenário comercial. A União Europeia anunciou nesta quinta-feira que os 27 países do bloco iniciarão negociações com os Emirados Árabes Unidos para um acordo de livre comércio.
“É outro mundo”
Nesta quinta-feira, a Asean, um bloco de 10 países do sudeste asiático, comprometeu-se a “não impor medidas de retaliação” contra os Estados Unidos.
O Vietnã, afetado por uma tarifa de 46%, também afirmou que comprará mais produtos americanos em troca de um acordo.
De acordo com Donald Trump, mais de 75 países já manifestaram interesse em negociar com os Estados Unidos.
Na noite de terça-feira, o presidente norte-americano disse que muitos líderes estrangeiros estão “beijando sua bunda” para fechar um acordo.
Mas, segundo o economista e ganhador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, os países não sabem “como negociar” com os Estados Unidos porque “não há nenhuma teoria econômica por trás do que ele (Donald Trump) está fazendo”.
“É outro mundo”, comentou em entrevista ao programa independente Democracy Now!