Moradora de Caxias do Sul comemora transplante de fígado como novo aniversário

Quando alguém opta por ser doador de órgãos, oferece não somente uma parte do corpo ao próximo, mas também a chance de recomeçar. A expressão 'recomeço', portanto, define bem a mudança de vida de um transplantado. A data da cirurgia é comemorada como se fosse um novo aniversário. E é, de fato: quando um paciente passa a fazer parte da fila do SUS, sabe que depende da boa ação de alguém que sequer conhece para continuar vivo. E quando isso acontece, ele renasce.

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Jacira Maria Dosso é uma das caxienses com duplo aniversário. Comemora um deles em 14 de setembro, mais precisamente próximo da meia-noite. Neste dia, em 99, ela recebia um novo fígado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Eram quase dois anos na fila de espera que se encerraram com uma ligação na noite anterior. Ela assistia televisão, acompanhada do esposo, Normelio Romeu Marques, já falecido, quando foram avisados de que havia um órgão 90% compatível. Mal dava para acreditar, mas não havia tempo para digerir a informação: em duas horas, deveria estar na Capital para se submeter à cirurgia.

_ Um jovem de 20 e poucos anos que morreu em acidente de moto em Santa Maria me salvou. Ou a família dele que aceitou doar_ recorda.

Quatorze anos depois, Jacira prefere comemorar o novo aniversário longe de casa. Todos os anos, no mês de setembro, visita creches e oferece guloseimas para crianças. Também é voluntária da Associação dos Renais Crônicos de Caxias do Sul (RIMVIVER), e tem levado sua história em palestras para escolas ou eventos. Jacira participou da campanha da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e é dona de um certificado de renascimento. É possível imprimi-lo via internet. Nele, há data e local do seu renascimento. Ela ensina:

- Me tornei mais humana, mais disponível para entender o que é a vida. Quando você precisa de um órgão, a sua vida e da sua família têm outro sentido.