Tiago da Luz Pereira, preso preventivamente por envolvimento no esquema de adulteração de leite nos Campos de Cima de Serra, admitiu que a fraude era rotineira. Ele diz que trabalhou apenas dois meses para Márcio Fachinello, apontado como mentor da fraude.
Fraudadores do leite nos Campos de Cima da Serra usavam código para desviar investigação
Tiago conversou com a reportagem após ser preso na Operação Leite Compen$ado, na manhã desta quinta-feira, em Esmeralda. Além de Tiago, foram presos Márcio, João Paulo Alves da Silva e Claudiomir Rodrigues de Souza. As buscas ocorreram nas moradias dos suspeitos e na sede da transportadora, que fica na própria moradia de empresário. Os agentes tinham ordem para apreender quatro caminhões usados na coleta e transporte do leite.
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A fiscalização também apreendeu um saco de bicarbonato em um galpão ao lado da casa de Fachinello. De acordo com o promotor Mauro Rockenbach, este produto poderia estar sendo usado no leite. O MP também pretende interrogar produtores e empresários que adquiriram o leite fraudado.
Confira a entrevista com Tiago da Luz Pereira:
O senhor misturava produtos ao leite vencido?
Tiago da Luz Pereira: Sim.
Como era esse processo?
Eu recebia um pó branco dentro de um pote do meu chefe (Márcio Fachinello). Eu colocava isso dentro da pipa do caminhão, depois eu ia buscar o leite nos fornecedores.
O que o senhor fazia depois que coletava o leite?
Eu levava para Água Santa, onde tem o comprador.
O comprador em Água Santa sabia que havia essa mistura?
Que eu saiba não. Eu chegava lá e o leite era descarregado.
Essa fraude ocorria diariamente?
Não. Era umas três ou quatro vezes por semana que eu fazia a mistura.
Quando o senhor fazia a coleta do leite, onde estava armazenado nos produtores?
Era tudo refrigerado. Eu buscava e estava sempre na refrigeração.
Em quantos produtores o senhor coletava o leite?
Em 30, 30 e poucos, todas as tardes.
O senhor daria esse leite para sua família?
Não, mas eu não sou de tomar muito leite.
O senhor concordava com essa fraude?
Eu não achava certo, sabia que era rolo, mas eu precisava do dinheiro. No começo eu não sabia também que tinha problema nisso. Quando descobri, fiquei com vontade de parar de trabalhar aí. Pedi pra sair, mas ele (Márcio Fachinello) pedia para eu ficar.
O leite que o senhor recolhia estava vencido há quantos dias, em média?
No máximo quatro dias, mas não tinha cheiro ruim, não parecia que era estragado. Também não faço ideia o que era o produto que eu colocava.
Operação Leite Compen$ado
"Eu fazia, mas não achava certo", diz homem preso por adulteração de leite nos Campos de Cima da Serra
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Adriano Duarte
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