Há quase 25 anos Romeu Grapilha deixou a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), mas o trem não saiu de sua vida. Ele ainda mora na estação de Forqueta, em Caxias do Sul, com a esposa e dois filhos - o terceiro cresceu ali, mas já saiu de casa. A plataforma de embarque hoje guarda dois carros e os vários escritórios foram transformados nos cômodos de uma casa de família, como outra qualquer.
- Não é fácil. Fizeram as pecinhas muito pequenas. Tinha muitos escritórios - diz Grapilha.
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O ex-ferroviário é Natural de Antônio Prado, mas foi contratado pela RFFSA em Vacaria. No início dos anos 80, desmoronou um aterro, deixando parte dos trilhos no ar. Quando o trabalho em Vacaria terminou, foi transferido para Forqueta. Em 1984, quando chegou no novo trabalho, passou a morar no prédio da estação - o que era normal entre os funcionários da Rede Ferroviária -, onde apenas uma peça ainda era ocupada. Dali não saiu mais.
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Com o tempo o prédio foi ficando com cara de residência. A entrada principal teve a porta fechada e foi transformada em um quarto. O que antes era o saguão onde passageiros faziam fila para comprar passagens virou mais dois dormitórios. A cozinha e a sala ocupam o que antes eram escritórios de funcionários da RFFSA. Ao lado do prédio, uma garagem abriga a oficina mecânica onde Grapilha ganha a vida desde que deixou o emprego como ferroviário, no início dos anos 90.
Sobre os trilhos, o ex-ferroviário guarda peças dos automóveis que conserta. Na memória, tem viva a lembrança do trabalho duro de um artífice de via permanente. O nome é complicado, assim como era sua função: garantir a qualidade dos trilhos. E foi graças a eles que Grapilha descobriu um irmão.
No fim dos anos 80, uma árvore caiu sobre a rede elétrica no bairro Desvio Rizzo. Como precisavam de um especialista, foi chamada uma equipe de Bento Gonçalves. Quando o grupo voltou para a sua cidade, o chefe de Grapilha mencionou que ele havia trabalhado com um colega com o mesmo sobrenome. Curiosa com o corrido, uma de suas irmãs investigou a história e descobriu que eles tinham meio-irmãos em Bento Gonçalves - entre eles, um desconhecido com quem Grapilha havia trabalhado no conserto em Desvio Rizzo.
História
Estação Forqueta virou casa para ex-ferroviário de Caxias do Sul
A vida sobre os trilhos marcou Romeu Grapilha, que até descobriu um irmão por causa do trabalho na RFFSA
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