O aposentado Luiz Pizzetti, 89 anos, perdeu as contas de quantas vezes abriu o livro que conta a própria trajetória de vida para ler a mensagem escrita dois dias antes pela presidente Dilma Rousseff, durante a passagem por Caxias do Sul. Na quinta-feira, mal a mandatária havia ocupado o microfone na abertura da Festa da Uva, nos Pavilhões, Pizzetti respirou fundo, levantou da cadeira e gritou por um autógrafo. A resposta veio tão rápida quanto a pergunta:
- Pode deixar que eu vou escrever algo bem especial para ti - falou Dilma.
Encaminhado ao camarim, Pizzetti foi o primeiro a conversar com a presidente.
- Eu me sinto orgulhoso de ter sido teu colega de prisão, eu disse a ela, e também pedi desculpas por ter quebrado o protocolo. Ela só dizia "eu sei, eu sei". Não deu tempo de falar mais nada, tinha muita gente, é tudo muito rápido - relatou o aposentado.
A dedicatória veio mais simples do que ele imaginava, mas foi o suficiente para emocioná-lo. Em letras grandes que ocupam metade da folha de rosto, a mensagem "Para Luiz Pizzetti, com um grande e forte abraço" abrem as duzentas páginas da própria biografia, "Luiz Pizzetti - Uma consciência que pulsa", de Uili Bergamin, lançado em 2013, e que narra a trajetória dedicada à luta social e comunitária.
Pizzetti chegou em Caxias em 1951. Três anos depois, integrava o Partido Comunista Brasileiro (PCB), hoje Partido Popular Socialista (PPS). Suplente de vereador em 1964, foi preso pelo regime militar enquanto almoçava com a família e transferido para Porto Alegre, onde permaneceu em cativeiro por 36 dias. Fundou a União das Associações de Bairros (UAB) e trabalhou como sapateiro, motorista e vendedor da antiga indústria de refrigerantes Marabá, e se aposentou como taxista.
Por tudo isso, se Dilma tivesse conversado mais alguns minutos com Pizzetti, teria levado um puxão de orelha.
- A senhora está investindo em todas as partes, mas esse investimento não está aparecendo. Sessenta por cento do dinheiro público é desviado, sonegado ou roubado - repete ele a frase que gostaria de ter dito.
Mas Pizzetti é um otimista e é na mulher que aposta a esperança de um Brasil melhor.
- Muita gente critica a Dilma, mas ela é melhor que o Lula. Eu sempre defendi a igualdade, os mesmos direitos entre homens e mulheres. A mulher tem que se libertar politicamente. Em dois mil anos, os homens criaram a miséria. Só a mulher pode endireitar esse país - encerrou.
Festa da Uva
Líder comunitário, Luiz Pizzetti consegue autógrafo da presidente Dilma Rousseff
Mensagem foi escrita no livro que conta a trajetória política do aposentado
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