Neste domingo, dia 2 de fevereiro, ocorre a anual romaria votiva em honra à Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha. Uma prática que, nesta edição, estará ornada de simbolismos: os 125 anos do primeiro ritual, que celebra a queda da chuva responsável pelo fim de uma dura estiagem na região; o jubileu de 2025 anos do nascimento de Jesus Cristo; e, ainda, os 150 anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul.
São motivos a mais para prestigiar o ato. Entretanto, o propósito é simples e imutável, independentemente da ocasião: agradecer e pedir proteção. Desta forma o evento é definido pelo agricultor José Pasa — o seu Bepi —, 80 anos, um dos coordenadores da procissão motorizada que, neste ano, promete reunir mais de 300 tratores agrícolas.
O produtor de morangos da Linha Julieta é encarregado, também, por elaborar o tradicional carro andor, veículo que transporta a imagem da santa, neste caso, Caravaggio, decorado com frutas e flores.
— Planejamos essa procissão de máquinas para pedir proteção. Fazemos o carro andor com o maior prazer, porque isso é um privilégio. Não é trabalho, é sagrado — garante.
Além de mobilizar Farroupilha, cidade-sede do palco da festividade, o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, é esperada pela organização a presença de moradores de Garibaldi, Bento Gonçalves, Pinto Bandeira, Flores da Cunha e Carlos Barbosa.
O reitor do santuário, padre Ricardo Fontana, situa que, diferentemente da romaria geral à Caravaggio, a votiva faz referência a um acontecimento datado de 1899: a região passou por uma violenta estiagem de seis meses que levou agricultores a se reunirem em novena — orações durante nove dias — para suplicar o retorno da chuva.
— E, no dia 2 de fevereiro de 1899, os agricultores da região se encontraram no Santuário de Caravaggio. Chegaram aqui os fiéis e peregrinos, com os pés, dizem os relatos, cheios de poeira e passaram o dia em oração. No fim da tarde, os ventos eram de tempo bom, mas de repente vêm nuvens e uma chuva torrencial, muito forte e contínua, que reabasteceu as vertentes e as fontes — contextualiza Fontana, que completa:
— Isso foi considerado uma graça alcançada. A partir do ano de 1900, toda a região volta ao santuário no dia 2 de fevereiro para fazer este voto — complementa.
"A festa é um compromisso de todos"
No domingo de romaria votiva, a primeira missa no santuário está marcada para às 6h30min. De acordo com a programação, às 10h será realizado um ato litúrgico especial, conduzido pelo bispo diocesano Dom José Gislon, seguido pela chamada 'bênção dos tratores', em que acontecem, em sequência, as procissões da imagem de Nossa Senhora de Caravaggio, dos peregrinos e dos tratores pela Avenida Dom José Barea.
— A avenida fica completamente tomada de máquina — brinca o seu Bepi.
Quando perguntado sobre o tempo em que participa dessa celebração da fé, diz que é "desde pequenininho, lá pelos cinco anos". Conta que todas as famílias da comunidade dele, a Linha Julieta, caminhavam até Caravaggio com estandartes, rezando o terço, em celebração ao "milagre da chuva".
— Então, desde que me lembro, sempre participei — completa o agricultor.
Apesar de tantas décadas nessa lida, a expectativa do José Pasa para mais uma edição do ritual parece a mesma de quando participou pela primeira vez. Adianta que o carro andor, o qual deve ganhar forma na véspera do evento, além da presença da imagem, estará decorado com uma diversidade de frutas, formando uma âncora.
Esse é um dos símbolos presentes no santuário e busca remeter aos navios que trouxeram os imigrantes às terras gaúchas, simbolizando a esperança. O tema da votiva em 2025, inclusive, é "Peregrinos da Esperança", o mesmo do jubileu deste ano, decretado pelo Papa Francisco.
— A expectativa é grande e o compromisso também. Sabemos que será um dia com muita participação. Além dos agricultores, virá muita gente que normalmente visita Caravaggio nos domingos. Está tudo dentro do que planejamos. Cada comunidade tem suas tarefas, essa festa é um compromisso de todos — sustenta Pasa.
Ele descreve com alegria o clima que se forma quando os romeiros se encontram:
— (Os tratores) vão chegando, sendo estacionados e emblemados, e aí começa aquela conversa gostosa de agricultor, tem muito assunto! É aquele buongiorno bem agradável. É o dia em que o pessoal chega com o melhor cacho de uva, todos trazem o que têm de melhor. Depois, é doado para instituições, porque vem fruta 'de tudo que é lado' — conta um dos líderes da romaria votiva de Farroupilha.
Expor os frutos, como mencionado por José Pasa, significa, conforme o reitor do Santuário de Caravaggio, ofertar as premissas da colheita da terra e do trabalho humano diante do altar do Senhor.
— É um momento muito carinhoso, em que os agricultores têm uma veneração muito afetuosa e íntima com Nossa Senhora de Caravaggio, a partir daquele episódio de 1899 — afirma o padre Ricardo Fontana.
Sucessão familiar no campo
Mais de um século depois de homens e mulheres do campo superarem os inúmeros obstáculos da produção agrícola, dentre eles a estiagem de 1899, mas também os recentes, como a chuva extrema de maio de 2025 no RS, o seu Bepi, munido com sua experiência de oito décadas, prevê um futuro conturbado para a vida rural:
— Não estamos sofrendo aquela seca de 125 anos atrás, o que tem agora é uma 'seca' até pior: muitas famílias não estão conseguindo um sucessor. O adolescente que sai para estudar, entra em uma universidade, 90% não volta mais. Vamos sofrer por não ter sucessor — alerta.
Programação
Domingo, 2 de fevereiro:
- Missas: 6h30min, 8h, 10h, 15h e 17h
- Missa solene, conduzida por Dom José Gislon: 10h
- Almoço: 12h — ingressos a R$ 75, no santuário
- Reza do terço: 14h
- Bênção dos tratores: após a missa das 10h, procissão da imagem de Nossa Senhora de Caravaggio seguida pela procissão dos peregrinos e tratores pela Avenida Dom José Barea. No retorno da procissão acontecem as bênçãos dos tratores, na esplanada do santuário, e da garganta, no interior do santuário.
- A bênção das velas e da garganta ocorrem em todas as missas.
Atenção: durante as atividades, o trânsito ficará interrompido para a passagem de carros na Avenida Dom José Barea, que dá acesso ao santuário. O motorista pode utilizar, como alternativa, a Avenida 26 de maio. No santuário, o estacionamento da esplanada será reservado para os tratores e expositores.
Fonte: Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio