Desde o começo do ano passado, Caxias conta com uma delegacia especializada na investigação de acidentes de trabalho. A iniciativa é pioneira no Estado e já tem 53 inquéritos policiais instaurados. Desses, 22 estão concluídos e encaminhados ao Fórum. Os demais seguem em andamento.
Os casos estão centralizados na 1ª DP, sob responsabilidade do delegado Vitor Carnauba. Conforme o delegado, há pelo menos três crimes que podem resultar de acidentes de trabalho: homicídio culposo, lesão corporal ou periclitação de vida e saúde, quando a vida de alguém é colocada em perigo.
- Para a polícia era muito difícil entender um acidente de trabalho, porque há uma série de regras que as empresas precisam seguir que não tínhamos conhecimento. Agora conseguimos valorizar nosso inquérito e ampliar a visão que tínhamos sobre acidente de trabalho. Assim, ampliamos a proteção ao trabalhador. É como quando você dirige um carro, além da conduta, ter que ter pneus em dia, freios em boas condições - explica Carnauba.
Para o delegado, os acidentes resultam da imprudência do trabalhador associada à negligência do empregador. Assim como outros especialistas, Carnauba acredita que quase todos poderiam ser evitados.
Para quem vive um acidente, os danos persistem. Queimaduras de terceiro grau no rosto, nas mãos e nas pernas são as consequências mais visíveis da maratona de quase dois anos enfrentada pelo técnico em eletrotécnica Éder Rogério Cantarelli de Siqueira, 26 anos. Em julho de 2011 ele trabalhava em um painel eletrônico em uma empresa de Caxias, na subestação de energia elétrica, quando aconteceu uma explosão. Siqueira vestia camiseta de algodão, calça e jaleco _ nenhuma proteção contra o fogo.
- Até hoje preciso fazer fisioterapia todos os dias. Sinto dores nos joelhos, tornozelos, quadris e ombros, por ter ficado muito tempo deitado. Uso cremes para ajudar na cicatrização e não posso me coçar, pois a pele é muito fina. Também faço tratamento dentário e psiquiátrico. Tomo medicamentos fortes, inclusive remédios para ansiedade, pois já tive pesadelos - enumera o rapaz, que contou com o apoio da mulher, Renata Fochesatto, ao longo da recuperação.