
Fantasiados de personagens infantis, como Peter Pan, Chiquinha, Branca de Neve, Doutor Sorinho, Bebê e palhaços, funcionários voluntários do Hospital Beneficente São Carlos em Farroupilha levam o canto coral aos pacientes. Ao ouvir as canções, na última sexta-feira, a dona de casa Caida Barbosa da Rosa, 47 anos, logo reconheceu a visita.
Com problemas de compressão da coluna e na bexiga, e utilizando sonda há dois anos, Caida precisa se internar com frequência por causa da dor que sente e pela vulnerabilidade para contrair infecções. Por isso, já conhece bem a Turma do Sorriso:
- Eu amo o que eles fazem. Sinto muita emoção, como da outra vez em que eles cantaram a música do Claudinho e Buchecha (Eu fico Assim sem Você). É um trabalho tão bonito, que traz alegria e faz com que a gente esqueça da dor.
Quando veste macacão infantil, automaticamente a higienizadora do hospital, Enilda Petry, 51, começa a falar tal qual um bebê. É com este tom que a nenê de 1,44 metros de altura explica o que faz e como se sente.
- Eu não sei falar muito bem, porque sou bebê, mas é gratificante ver a reação das pessoas. Já vi gente na UTI se emocionando - descreve Enilda.
Professora de canto, Fernanda Bortolini Souto se voluntariou a ser instrutora da Turma do Sorriso porque acredita no poder de recuperação por meio da música.
- A música também serve para animar as pessoas. Escolhemos letras motivadoras e mostramos que a dor faz parte. As crianças cantam junto e alguns adultos chegam até a chorar - conta Fernanda.
A Turma do Sorriso se formou em 2003, a partir do projeto Doutor Sorinho, voltado para a ala pediátrica do Hospital São Carlos. Percebendo o interesse e necessidade de expandir as ações para todos os pacientes é que surgiu o coral.
Os ensaios quinzenais e as apresentações mensais no hospital são feitos fora do horário de serviço dos funcionários, mas a direção libera os voluntários quando coincide de o horário de trabalho ser o mesmo das atividades.
A psicóloga Márcia Fetter Nicoletti, coordenadora dos projetos de humanização hospitalar do São Carlos, destaca os benefícios da Turma do Sorriso, tanto para os pacientes quanto para os próprios integrantes.
- Eles oferecem o canto como uma forma de descontração, já que o hospital por si só é um ambiente muito amedontrador e, ao mesmo tempo, veem aumentar a sua auto-estima - ressalta Márcia.
Para o administrador do São Carlos, Edson Martins, a iniciativa é capaz de auxiliar no tratamento médico.
- Na sua essência, o ambiente hospitalar é pesado por tratar de doenças e problemas. Por isso, além de dar remédios, queremos dar alegria - comenta Martins.
O pediatra Luís Mello comprova que um trabalho deste tipo pode contribuir para o paciente se sentir melhor.
- É positivo, porque a internação sempre causa algum grau de depressão pela saída do ambiente familiar e a Turma do Sorriso atua para amenizar esse sofrimento que não consegue ser verbalizado - explica o médico.