Faltando uma semana para a abertura oficial da 24ª edição das Surdolimpíadas, Caxias do Sul começou a vivenciar o clima da competição desde a manhã deste domingo (24). As ruas da área central da cidade foram preparadas para a realização de um evento-teste da maratona surdolímpica, que reuniu cerca de 200 corredores entre 7h e 10h. Diferentemente da prova oficial, que será realizada em 15 de maio e deve reunir 35 atletas, o evento-teste não foi exclusivo para surdos e reuniu pessoas dispostas a participar da atividade.
Ainda neste domingo, a partir das 14h, ocorrerá o segundo e último ensaio, desta vez da natação, na Sede Guarany do Recreio da Juventude, que será o local de competição da modalidade.
O evento-teste da maratona foi planejado para que o Comitê Organizador da Surdolimpíadas, que inicia no próximo domingo (1º) e seguirá até 15 de maio, em Caxias do Sul e Farroupilha, avalie questões importantes para a realização da prova, como bloqueios de trânsito, logística, chipagem dos atletas e pontos de hidratação. Um dos maiores desafios é o bloqueio do tráfego de veículos, já que a maratona tem um percurso de 42.195 metros a serem percorridos pelas ruas de Caxias do Sul.
Assim como está previsto na prova oficial, a largada do evento-teste foi na Rua Alfredo Chaves, em frente à Prefeitura de Caxias do Sul, no sentido centro. Diferentemente das provas com participantes ouvintes, quando há um sinal sonoro emitido para dar a largada, desta vez sinais luminosos se apagarão e indicarão o início da maratona.
Na Rua Os Dezoito do Forte, os atletas dobraram à esquerda, seguindo até a Feijó Júnior. Dali, eles acessaram a Rua Sinimbu e seguiram até a Rua Angelina Michelon, quando dobraram à direita e retornaram pela Os Dezoito do Forte até a Alfredo Chaves para completar a volta. Os moradores da região foram avisados pelos organizadores sobre a interrupção no tráfego.
Para permitir a realização da prova, o tráfego de veículos na Sinimbu e na Os Dezoito do Forte foi totalmente interrompido, o que se repetiu em algumas ruas laterais que dão acesso para as duas vias. Os pontos estavam bloqueados com fitas e cavaletes e acompanhados por fiscais de trânsito. Ao todo, para cumprir o percurso, serão realizadas sete voltas e a previsão é que a prova oficial dure cerca de três horas.
— O evento-teste busca simular as condições oficiais de como será a prova. São muitos pequenos detalhes que precisam estar funcionando no dia para não ferir nenhuma regra da maratona. O circuito tem um cuidado muito grande sobre a altimetria, as variações de altura, já que existem regras para isso. Tem um estudo técnico que definiu esse trajeto e o apoio da prefeitura é fundamental para que ajude a organizar o trânsito e garantir a segurança dos participantes — avalia o CEO do Comitê Organizador, Richard Ewald.
Ele afirmou também que vai avaliar com os demais integrantes da organização se serão necessários ajustes na prova. A avaliação dos corredores do evento-teste também será considerada. De acordo com o coordenador da maratona, Zelfino Nadin, alguns pontos observados durante o evento-teste serão analisados com a organização.
— O evento foi um sucesso, mas algumas coisas podem ser melhoradas. Na semana que vem vamos fazer uma reunião com todo o pessoal que trabalhou e que eles vão trazer pontos que podemos melhorar — avalia Nadin, que cita como exemplo a diminuição da quantidade de carros na escolta dos atletas como um dos pontos a ser discutido.
Água é distribuida em diversos pontos
Outro ponto de atenção foi a distribuição de água. Ao longo do percurso, há oito locais para a retirada - um a cada quilômetro e um adicional. O distanciamento também é uma regra internacional para competições de atletismo nas ruas. Os copos, fornecidos pelo Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), ficam organizados em uma mesa para serem retirados pelos atletas em prova.
A maratona e a natação serão as únicas modalidades a serem testadas antes do início das Surdolimpíadas. Estava agendado um evento semelhante para o ciclismo, mas que precisou ser adiado e não será mais realizado.
Ewald avaliou também que a próxima semana será de ajustes finais nos locais de competição e também de recepção das delegações. Atletas da Coreia do Sul e Venezuela já estão hospedados na cidade. Entre atletas, comissões técnicas e equipes de tradutores-intérpretes de libras e organização, serão 5 mil pessoas envolvidas no evento, que é o terceiro maior do mundo, atrás apenas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
— Tem alguns locais de competição ainda recebendo materiais, a Praça Surdolímpica (nos pavilhões da Festa da Uva) também está se consolidando e hoje (domingo) terminamos a montagem dela — explica o CEO do Comitê Organizador.
Evento testa sistema de cronometragem
Um dos testes que mais chamaram a atenção foi o sistema de cronometragem do tempo de prova, que é o que determinará quem subirá ao pódio e receberá as medalhas. Dos 80 participantes, 35 receberam um chip e uma numeração oficial que foram fixadas na roupa. A tecnologia é semelhante a utilizada em outras provas de maratona pelo país. Ao passarem por um sensor, o sistema contabiliza informações dos participantes, indicando o tempo de cada volta e a localização.
Um dos participantes escolhidos para receber o chip foi o caxiense Andrei Borges, 25 anos. Surdo desde o nascimento, ele estava comemorando o retorno ao atletismo, prática esportiva interrompida desde o início da pandemia. No evento-teste, além de largar na frente, Borges manteve a dianteira durante boa parte da primeira volta, mas deixou a maratona após 26 minutos e 35 segundos de prova.
— Comecei a correr uns três anos antes da pandemia e esse evento-teste fez com que eu matasse um pouco da saudade. Acordei bem cedo para estar aqui e estava ansioso. Como estava há muito tempo parado, faltou um pouco de ritmo. Não cansei excessivamente. Comecei um pouco mais rápido e depois fui curtir — contou.
Para ele, que tem um canal no YouTube e será repórter durante as transmissões oficiais da competição pela internet, o esporte surdolímpico ganhará mais repercussão a partir das Surdolimpíadas. Borges avalia também que é um orgulho morar em uma cidade que sediará o evento pela primeira vez na América Latina. A primeira edição foi em Paris, na França, em 1924.
— Não sei explicar o que eu sinto. É uma experiência grandiosa, um orgulho saber que a minha cidade está sediando este evento internacional. Sabemos que outras cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, são referência em competições, mas desta vez é Caxias que será — afirma Borges.
Números do Evento
Modalidades: 20
Atletas: 4.482
Países: 79
Medalhas em jogo: 1.370
Locais de competição: Universidade de Caxias do Sul (UCS), Pavilhões da Festa da Uva (Centro Olímpico), Santuário de Caravaggio, Estádio Centenário, CT do Juventude, Fundação Marcopolo, Estádio Municipal de Caxias do Sul, Complexo do Sesi, ginásio do Vasco da Gama, Golf Club, Recreio da Juventude, Parque Salto Ventoso e Town Hall.