
De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio do trabalhador gaúcho fechou 2024 em R$ 3.698. É o maior valor desde 2012, quando a pesquisa iniciou. Esse valor multiplicado pelos 6,077 milhões trabalhadores do RS fez com que a massa salarial ficasse acima de R$ 22 bilhões – também um recorde. No Estado e na Serra, o aumento no ganho médio pode ser um termômetro para que a economia continue aquecida.
A coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Soares, relembra que o dado também leva em conta a reposição da inflação. Para a economia, o sinal positivo é de que o trabalhador mantém o poder aquisitivo, como comenta a economista:
— Mantendo esse poder aquisitivo, mantém a economia aquecida. Tendo minimamente o atendimento dos setores que compõem a economia, continua aquecido. Isso é bom, porque isso vai refletir positivamente a economia andando.
O levantamento leva em conta os ganhos de empregados CLT, servidores públicos, domésticos, empregadores e trabalhadores por conta própria, formais ou informais.
A economista faz apenas o alerta de que este salário, que repõe a média da inflação do ano passado, é o mesmo utilizado neste ano. Ou seja, em um período em que está se observando um aumento geral dos preços.
Doutor em Economia, Mosár Leandro Ness analisa que o salário reflete a dinâmica da atividade econômica. A média, apesar de ser a maior desde 2012, demonstra, conforme o especialista, que "a dinâmica da economia ainda está muito baixa". Ness chama atenção que a enchente do ano passado pode ter provocado consequências no rendimento da economia gaúcha. Ou seja, a média poderia ser ainda maior no Estado.
— Embora esse rendimento seja o maior desde 2012, ele ainda é um rendimento que está muito aquém. Ele denota que nós tivemos uma enchente com uma mancha de inundação que atingiu os principais polos produtivos da nossa economia e que fez com que tivéssemos até uma queda de rendimento. Estamos aquém do que poderíamos ter chegado em função desses eventos climáticos, em função do processo de reconstrução não ter sido com mais vigor e em função das políticas desenvolvidas pelo Estado para a reconstrução também não terem atingido a todos os setores, a toda a economia — avalia o economista.
Comércio com impulso no Estado
No Estado, o aumento da média salarial pode ter refletido num consumo maior no comércio. O Panorama do Comércio RS demonstra que o desempenho do varejo no ano passado saltou para 8,4%, sendo o melhor entre os setores econômicos e mais que o dobro da alta nacional, que foi de 4,1%. Se considerar o varejo ampliado (que conta com veículos, materiais de construção e atacarejos), a alta é de 9,5%. Os segmentos que tiveram destaque foram de móveis, eletrodomésticos, equipamentos de informática, alimentos em atacarejos, veículos e materiais de construção.
Apesar da alta no ano e o impulso, a Federação Varejista do RS demonstra preocupação com este ano por conta do desempenho do setor em janeiro. O varejo ampliado registrou queda de 2,4% no começo deste ano, em comparação com dezembro.
— A economia dá claros sinais de arrefecimento, a inadimplência preocupa, os juros altos detêm a inflação, mas também causam o esfriamento da economia. A instabilidade política e a política econômica nacional advinda do governo acentuam essa realidade — opina o presidente Ivonei Pioner.
Cenário estável em Caxias
Em Caxias do Sul, o setor do comércio teve um avanço de 1% no ano passado. O diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC, Tarciano Cardoso, avalia que no Estado o impulso pode ter sido ocasionado também por conta da catástrofe climática do ano passado:
— Em termos gerais do RS, pode ter ocorrido, sim, mas tivemos uma catástrofe que fez com que muitas compras tivessem que ser feitas por famílias que perderam tudo. Ou seja, com o aumento de massa salarial, geralmente vai uma grande parcela para o mercado, todavia, com o aumento de preço de produtos, sejam eles duráveis ou não, o comércio convive com um velho inimigo, que é a inflação. Penso que uma parcela do crescimento do comércio gaúcho pode estar relacionada às enchentes que forçaram um consumo além da demanda normal.
O que se nota no município, conforme Cardoso, é que houve aumento na massa salarial e pessoas empregadas. Nos empregos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), cerca de 6,1 mil vagas foram geradas em 2024, num saldo de 99 mil contratações e quase 93 mil demissões.
O presidente do Sindilojas Caxias, Rossano Boff, afirma que o aumento da média salarial pode ter sido um pouco a mais do que o esperado, o que faz com que respingue no comércio de forma positiva:
— Todo o dinheiro que vem para a população acaba sendo destinado para as prioridades de cada indivíduo, como pagar as contas, comprar itens de necessidade básica. Aquilo que estiver sobrando acaba indo para o comércio.
Boff relembra que, mesmo que o setor não tenha sido afetado pela destruição do ano passado, houve um movimento que surgiu a partir do evento climático. O presidente do Sindilojas sente que muitas das doações feitas pelos caxienses foram de compras feitas também no comércio.
— O fato é que sempre que a população tem uma renda a mais, ela vai fazer uma diferença no comércio. Na minha visão enquanto presidente do Sindilojas Caxias, esse valor acima pode ser um reflexo da falta de mão de obra também. As empresas estão se reestruturando quanto ao número de funcionários e, às vezes, uma forma para que se retenha melhor e mais os funcionários são algumas promoções internas com cargos superiores que elevam também um pouco o salário. A troca de funcionários puxaria os salários para baixo, mas as promoções internas elevando os cargos dos funcionários também fazem com que os seus salários aumentem — completa Boff.