
Dados da Associação Nacional dos Corretores de Valores (Ancord) revelam que o Rio Grande do Sul é o quarto Estado brasileiro com mais pessoas físicas na B3, a bolsa de valores brasileira, com 332 mil. O que consequentemente faz crescer a demanda por assessores de investimentos, profissional responsável por guiar os potenciais investidores neste caminho.
E o próprio relatório anual da Ancord, divulgado em dezembro de 2024, evidencia a alta na profissão no país. Ao final do último ano, 26.681 pessoas estavam registradas na entidade para atuar como assessores de investimentos no Brasil. O número é 7% maior do que no último mês de 2023, quando havia 24.931. Conforme a entidade, o Rio Grande do Sul somava 2.693 profissionais no ano passado.
Mas, afinal, quem é esse profissional? O que ele faz?
De acordo com o mestre em Economia e professor da FSG Centro Universitário Eduardo Trapp Santarossa, o profissional da área não precisa, necessariamente, ter uma formação acadêmica, mas deve ter certificações como a da Ancord para atuar no mercado financeiro.
Por outro lado, Santarossa, que também é especialista em produtos e alocação na Fami Capital, em Caxias, afirma que aqueles que desejam se tornar assessores de investimentos devem ter conhecimentos na área de economia para entender os movimentos dos ativos, por exemplo.
Além disso, é necessário conhecer questões voltadas a contabilidade e administração e as legislações do mercado financeiro. O professor acredita que outra área do conhecimento tem sido fundamental nos dias de hoje: a Psicologia, para entender o perfil de cada potencial investidor.
— O mercado financeiro brasileiro é extremamente regulado e acompanhado de perto por instituições como o Banco Central. Para atuar na área, precisa ter uma domínio sobre a legislação, de como os mercados funcionam. Estou falando de um domínio e conhecimento que é das Ciências Econômicas, de conhecimentos que envolvem a parte de Psicologia e também de legislação. É um profissional que consegue navegar em todas essas áreas — explica Santarossa.

O professor comemora que o número de pessoas interessadas pelo mercado financeiro tem crescido nos últimos anos. Dentro das salas de aulas, também tem percebido o interesse dos alunos em ingressar nesta área.
— Os cursos de negócios têm buscado cada vez mais (o ingresso na área), porque o mercado financeiro está se tornando mais popular dada a importância para a vida das pessoas. É algo que naturalmente se fala mais sobre isso. Cada vez mais as pessoas estão interessadas em saber (sobre) a taxa Selic (taxa básica de juros da economia brasileira), o câmbio, a inflação, sobre como afeta a vida, os recursos, e isso se reflete nos alunos.
"Mercado sedutor”
Quem também vê o interesse dos alunos do Ensino Superior em ingressar no mercado financeiro é a mestra em Economia de Empresas e professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Adriane Maria Silocchi. Ela ministra uma disciplina chamada Moeda, Bancos e Mercado Financeiro.
De acordo com a professora, a disciplina é uma das mais esperadas pelos acadêmicos de Economia, por ser uma das primeiras da grade curricular que abordam sobre o mercado financeiro.
— O mercado financeiro requer uma preparação, busca de conhecimento. O aluno quando chega na minha disciplina já vem com uma certa bagagem, mas claro, a curiosidade dele é muito grande — revela a professora da UCS.

Adriane, que também trabalha como gerente de pessoa física em um banco, analisa que Caxias do Sul é uma cidade próspera para o desenvolvimento da profissão de assessor de investimentos.
— Me parece que é um mercado bem sedutor, desde a qualificação que as corretoras induzem até a percepção de buscar uma renda melhor, de ter uma função diferenciada no mercado, de fazer uma consultoria mais específica. Acho que Caxias é um mercado grande para quem quer entrar neste segmento.
O dia a dia
Análises, correrias, reuniões e muito mais. Esse é apenas um resumo de como é o dia a dia de um assessor. Roberta Tronco Nunes ingressou no mercado como investidora em 2016, mas, como sempre teve contato direto com a área, fez a migração de carreira em 2019, ano em que passou a atuar como assessora financeira.
Tem formação em Comércio Internacional, com experiências em recursos humanos dentro de indústrias caxienses, inclusive multinacionais, pós-graduação em RH e em mercado de capitais. Atualmente trabalha como assessora financeira da Alta Vista Investimentos.
— Meu trabalho, rotineiramente, é acordar, interagir com o que está acontecendo com o mercado, atuar nas carteiras dos clientes, gerenciar reuniões de propostas ou até mesmo a revisão das carteiras. E aí é proximidade, relacionamento, que é o principal diferencial da nossa carreira — resume Roberta.

O trabalho em equipe, juntamente com outros economistas da Alta Vista, é visto como fundamental por Roberta para o desenvolvimento das tarefas diárias. Além de Caxias, a assessora tem clientes em Porto Alegre e São Paulo, por exemplo. O que, por vezes, exige manejo da agenda para ter contato direto com eles.
— Finanças hoje são muito mais voltadas ao emocional, aquilo que a pessoa sente em relação ao dinheiro, do que a técnica. Tenho pessoas que me ajudam, no dia a dia, a trazer a qualidade dos ativos. Tu não fazes assessoria sem ter a técnica, mas tu consegues ter uma equipe que acelera o teu processo, porque eles estão olhando as carteiras, riscos de ativos, o que faz sentido. E tu pegas toda essa cesta e tem que conhecer o cliente, psicologicamente falando, e os planos que ele tem para oferecer o melhor produto.
Do banco à assessoria
Fabiana da Silva ingressou no mercado financeiro há 15 anos. Após passar boa parte da carreira em bancos, principalmente na área voltada às empresas na parte comercial. Há três anos, ingressou na Fami Capital para ser assessora de investimentos.
Ela é formada em Administração de Empresas com habilitação em Comércio Exterior, tem pós-graduação em Finanças, Investimentos e Banking.
— Foi uma transição que, para mim que vim do mercado financeiro, foi mais tranquila, porque já carrego relacionamentos com clientes dos bancos de muitos anos — lembra Fabiana.

Para Fabiana, a rotina do assessor pede disciplina e velocidade, além, claro, do bom relacionamento com os clientes ou potenciais clientes.
Conforme a assessora de investimentos, não há valores mínimos para que uma pessoa ingresse no mercado. No entanto, estar atento ao perfil de cada investidor faz parte da tarefa do assessor. Conforme Fabiana, o profissional apresenta as possibilidades, mas cabe ao cliente tomar a decisão.
— É um acompanhamento constante, realizamos reuniões periódicas, alinhamos com o cliente reuniões em que vamos apresentar cenário, perspectivas de mercado. Fazemos uma análise de perfil, se é mais conservador, moderado ou arrojado, e com base nesse perfil conseguimos apresentar todas as estratégias que o mercado tem disponível, mas a decisão sempre vai ser do cliente.