Desde novembro de 2019, os agricultores de Caxias do Sul vêm sofrendo as consequências da estiagem. Na avaliação do setor esta é a pior seca, pelo menos, das três últimas décadas. A escassez de chuva já afeta 70% dos municípios gaúchos e mais de 300 sinalizaram situação de emergência devido à seca. Segundo dados do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o nível dos rios no Rio Grande do Sul, em alguns locais, pode chegar a ser o pior em 80 anos. Em Caxias do Sul, conforme monitoramento do CPRM, o rio Caí, na localidade de Nova Palmira, teve a menor cota em 77 anos (-0,16 metros).
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Por isso, é com certo alívio que os agricultores de Caxias recebem a informação da homologação da situação de emergência, em decreto publicado no Diário Oficial do RS, na última quarta-feira, dia 17. Por meio deste documento, os agricultores poderão ter direito a novas formas de negociação dos seus financiamentos junto aos bancos.
—O principal problema é que o agricultor tem financiamento em banco e, por causa da quebra da safra, fica mais difícil saldar suas contas. Com esse decreto, eles podem se beneficiar e ter um alento melhor nas negociações, ampliando o prazo de pagamento das parcelas — explica Valmir Susin, titular da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa), de Caxias do Sul.
Entre as justificativas apresentadas ao governo do Estado para requerer o estado de emergência, está o fato de que praticamente todas as famílias do meio rural tiveram algum tipo de problema relacionado à estiagem. O dado mais grave, conforme aponta a Smapa, é que cerca de 4 mil pessoas ficaram sem água para consumo.
Ainda em maio, mais precisamente no dia 5, o prefeito Flávio Cassina (PTB) já havia assinado um decreto municipal que autorizava a dispensa de licitação para os contratos de aquisição de bens necessários às atividades, de prestação de serviços e obras relacionadas crise da estiagem. Além disso, revela Valmir Susin, a secretaria tem executado ações que visam minimizar os efeitos da seca que atinge não apenas a agricultura, mas também o consumo de água potável para a população.
— Em 90 dias, recuperamos 60 vertentes naturais de água em propriedades de agricultores. Alguns deles nem mesmo sabiam que havia vertentes em suas terras. É um projeto chamado de Água Limpa, que consiste em limpar o entorno dessa vertente e fazer uma caixa de contenção e proteção, com tijolo e cimento, pela nossa equipe especializada. Além disso, instalamos 80 caixas com 5 mil litros cada, para armazenar água. Essas medidas beneficiaram 200 famílias — cita o secretário.
O projeto Água Limpa, conforme dados da secretaria, foi realizado em propriedades na região de Vila Seca e Criúva, mas também houve proteção de fontes em outras localidades, como Forqueta e Terceira Légua.
Previsão de seca também na próxima safra
De acordo com levantamento da Smapa em conjunto com a Emater, as perdas na agricultura em função da seca já ultrapassam a marca de R$ 100 milhões, com maiores danos às produções de maçã, milho e uva. Segundo revela o secretário Valmir Susin, com a previsão de estiagem também para a próxima safra, é preciso pensar em ações preventivas mais eficazes.
— Nesta safra, percebemos como os agricultores estavam despreparados para uma estiagem tão longa. É por isso que estamos nos reunindo com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado e com a Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler - RS) para que possamos mudar a legislação e tornar menos burocrático o processo para a construção de açudes. Com mais reservas de água, acreditamos que os agricultores possam amenizar o impacto da próxima safra — diz Susin.