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Quando se aventurou pelos ares pela primeira vez, em 1994, Osmar Silveira dos Santos sentiu o coração bater mais forte até “quase sair pela boca”. Mal sabia que estava iniciando uma paixão para a vida inteira. Hoje, aos 49 anos de idade, já são mais de 10 mil horas dedicadas ao ofício. Não é por acaso que Coragem, como é conhecido por amigos e colegas, comanda a Serra Mar, empresa que oferece voos instrucionais em Torres, no Litoral Norte.
Para conhecer uma das mais belas praias gaúchas lá do alto, basta deixar o medo de lado e se dirigir ao Morro do Farol, onde o esporte é praticado diariamente ao longo do ano — desde que as condições climáticas sejam favoráveis (“a folga é só quando chove”, costuma dizer). O turista pode escolher entre duas modalidades: parapente, também conhecida como paraglider ou voo livre, por não ser motorizada, e paramotor. Nos dois casos, há o acompanhamento de um instrutor.
Caso a escolha seja pelo voo livre, são cerca de 10 minutos de experiência. De paramotor, o trajeto se estende por até 15 minutos, passando pelo Morro da Guarita e seguindo até a Praia de Itapeva, antes de retornar ao ponto de partida. Os preços variam de R$ 250 a R$ 350. O cliente também pode optar pela filmagem do voo e levar para casa as imagens da aventura.
— Eu vejo assim: existe o medo, mas também a vontade de voar. Esse é um sonho que vem desde a Antiguidade. Lembra do mito de Ícaro? As pessoas sempre quiseram voar. Quando elas conseguem superar o medo, o único perigo é viciar — comenta Coragem.
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O veranista até pode controlar o medo, mas a adrenalina segue à solta. O voo motorizado atinge 150 metros de altura e chega a avançar 50 metros mar adentro — distância adotada por questões de segurança: não oferece riscos aos banhistas, ao mesmo tempo que permite pouso emergencial na areia.
Quem opta pela aventura é unânime: a vista é de tirar o fôlego. Afinal, o passeio permite enxergar as belezas naturais de Torres, a extensa faixa de areia, os modernos edifícios que povoam a paisagem e a Ilha dos Lobos, menor unidade de conservação do Brasil, refúgio para lobos e leões marinhos vindos de zonas de reprodução na costa uruguaia.
Além dos voos instrucionais, a Serra Mar também oferece o curso completo de formação de pilotos de parapente e paramotor, com duração de um ano. As aulas podem ser feitas em finais de semana e feriados, conforme a disponibilidade do aluno, totalizando 40 horas de monitoria, no caso de voo livre, e 50 horas no voo motorizado.
:: O custo dos equipamentos de voo varia conforme os fornecedores. Os modelos de paramotor utilizados pela Serra Mar custam em média R$ 37 mil.
Respeito à natureza e bons equipamentos
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Para fazer o voo instrucional é necessário já ter completado 17 anos. Em contrapartida, não há idade limite para o esporte. Prova disso é o aposentado Davi Tigik, 65. Ele saiu da capital gaúcha para curtir o verão em Torres e aproveitou uma das tardes de folga para se aventurar nos ares pela primeira vez na vida.
— A sensação é muito boa. Valeu todas as expectativas. Com certeza, voaria mais vezes — atestou, logo após o pouso.
Segundo Coragem, existem dois pré-requisitos básicos para voar: respeitar as condições meteorológicas e investir em equipamentos de qualidade.
— Se o cara escuta a natureza, pode continuar voando até ficar velhinho. Eu tenho um aluno com 76 anos que voa tranquilamente, aqui e no Ninho das Águias (Nova Petrópolis). Depende apenas da condição física. E também de bons equipamentos. Eu uso motor italiano específico para voos e sempre invisto em manutenção, além dos itens de segurança, como o capacete — explica o instrutor.
:: O paramotor utiliza gasolina comum. O tanque cheio, com cerca de 15 litros, possui autonomia de até três horas de voo.
Crise argentina derruba procura
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Apesar do Morro do Farol estar sempre lotado em dias de sol, nem todos os veranistas encaram o desafio de alçar voo. E se os turistas argentinos eram responsáveis pela maior parte da demanda, a crise econômica no país vizinho impactou diretamente no negócio.
Até 2018, cada instrutor chegava a realizar 20 voos instrucionais diários. Com a desvalorização da moeda argentina, o número caiu para uma média de cinco passeios por dia. A Serra Mar conta com sete instrutores credenciados.
— Este ano a procura está mais baixa porque nossos principais clientes são argentinos e o câmbio não está ajudando, com o peso argentino valendo pouco. Os funcionários públicos também estão com salários parcelados, o que reflete diretamente na procura — avalia Coragem, que atua em Torres há 13 anos e também já atendeu turistas do Uruguai, Estados Unidos, Canadá, Japão e País de Gales.
Outra curiosidade: no ar, as mulheres são maioria. Elas respondem por cerca de 70% dos voos realizados no Morro do Farol.
SERVIÇO:
:: O que: voos instrucionais de parapente e paramotor.
:: Quando: todos os dias, das 10h às 13h e das 15h às 18h30min (em caso de chuva ou vento desfavorável, os voos não são realizados).
:: Onde: Morro do Farol, em Torres.
:: Preços do voo de parapente: R$ 300 (com vídeo) e R$ 250 (sem vídeo).
:: Preços do voo de paramotor: R$ 350 (com vídeo) e R$ 300 (sem vídeo).
:: Duração: 10 minutos (parapente) e 12-15 minutos (paramotor).
:: Mais informações: pelos telefones (51) 99123-1225 e (51) 99877-8472.