“Você não tem medo de escrever?”. A pergunta surgiu de mansinho, na voz doce e fininha da menina de cerca de nove anos de idade, mas atingiu com a força de um direto desferido contra o queixo do escritor (no caso, eu), até então confortavelmente sentado à sua mesa de autógrafos, distribuindo sorrisos e recebendo tapinhas nas costas pela nova obra literária. Minha guarda estava baixa e quase fui a nocaute. Jamais, em todas as entrevistas que havia concedido à imprensa, em todas as palestras a que comparecera, jamais, em momento algum, a desconcertante pergunta me havia sido feita. Pego de surpresa e atônito, enquanto garranchava a dedicatória no exemplar da mãe de Madalena (o nome da pequena inquisidora, soube depois), respondi um “não” titubeante, envelopado em um nada convincente sorriso amarelo, encenando um ar que deveria conter um misto de surpresa (que havia) com certeza (que não havia). Mas eu mentia.
Opinião
Marcos Kirst: um medo na ponta do lápis
Madalena tem razão: é muito bom, para a escrita e para quem escreve, que haja alguma dose de medo
Marcos Kirst
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