
Depois da febre oitentista, Brasília voltou a ser a meca do rock brasileiro nos anos 1990, com a popularização de bandas como o Raimundos. Só que havia muita coisa importante acontecendo longe dali, e não exatamente no eixo Rio/São Paulo. Vitória (Espírito Santo) estava a pelo menos oito horas de distância da capital mais próxima da região sudeste, mas um rico intercâmbio de fitas cassetes e zines era garantido com muita união e uma forcinha dos Correios – na era pré-internet. Da seara capixaba nasceu o Dead Fish, que completa 25 anos de existência underground em 2016 e celebra aniversário em Caxias neste sábado, no Aristos.
– Particularmente, penso que ali (Vitória) era o melhor cenário de música alternativa dos anos 1990, tínhamos muitas bandas envolvidas, muitas ideias e, o melhor, num espaço geográfico muito diverso, mas muito pequeno. As pessoas estavam muito unidas e abertas a ouvir muitas coisas diferentes e isso era bom demais – opina o vocalista Rodrigo Lima.
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Mas a ilha também ficou pequena e, no início dos anos 2000 a banda se muda para São Paulo para lançar o clássico álbum Zero e Um (2004) – algo como um Cabeça Dinossauro do hardcore. Veio a projeção nacional, mas também vieram mudanças de integrantes, decepções e aprendizados. Em 2014, depois de um jejum de cinco anos sem entrar em estúdio, o Dead Fish arrisca a sorte num projeto de crowdfunding. A banda arrecada quatro vezes a mais do que o esperado e grava o álbum Vitória, em 2015.
– Demoramos para entender parte do nosso legado no cenário brazuca, acho que agora, depois do crowdfunding, passamos a entender bem melhor – pondera Rodrigo.
Resultado da participação de mais de três mil fãs, o disco traz logo no nome uma síntese: não só a Vitória da ilha que pariu a banda, mas a vitória de quem sobrevive no mercado da música independente sem perder a integridade de adolescente.
– Ainda acreditamos muito que a banda é mais relevante do que as pessoas envolvidas internamente, o que é uma convicção bastante dura mas que existe desde o dia que fizemos o primeiro álbum, outra é que banda que não está na estrada e não bota a cara, não quer dar certo, só quer fazer sucesso, está pela festinha e não para se consolidar – aponta o vocalista.
Além de ter sido financiado por fãs e de celebrar os 25 anos do Dead Fish, Vitória marca ainda a estreia em estúdio do baterista Marcão (na banda desde 2009) e do guitarrista Ricardo, que entrou três meses antes da gravação do disco.
– Não tem centroavante goleador, é “toco e me vou”. Os caras pensam a banda como algo coletivo tanto musicalmente como na estrada e isso é um baita acerto para se estar numa banda como o Dead Fish – elogia.
Característica original desde o primeiro álbum, as letras do disco mais recente continuam expondo críticas ao cenário político/social brasileiro, algo nem sempre bem assimilado pelos fãs.
– O que é mais bizarro é uma pessoa se dizer fã de uma banda como a nossa e ser racista, machista, homofóbico ou esses patinhos novos que acreditam que um golpe de Estado é uma luta contra a corrupção – sentencia.
Em Caxias, a banda deve mostrar uma sinopse de seus sete discos e a energia peculiar que faz dos shows do Dead Fish uma experiência única:
– Se fosse para definir numa palavra, diria intenso. Tenho amigos que dizem que num show do Dead Fish tudo pode acontecer, até um elefante pintado de bolinha cruzar o moshpit e, hoje, tendo vivido isso por 25 anos, sinceramente, não duvido.
Programe-se
:: O que: show do Dead Fish (abertura das bandas Hempadura, Descartes e B-Side Life)
:: Quando: neste sábado, a partir das 22h
:: Onde: Aristos London House (Av. Julio de Castilhos, 1.677)
:: Quanto: entre R$ 40 e R$ 70, antecipados à venda na Badu Lak’s (Garibaldi, 669)