Impulsionado pelos troféus de roteiro original e melhor filme, conquistados no Oscar do último domingo, Spotlight - Segredos Revelados chega finalmente a Caxias (sessões somente no GNC), quase dois meses depois da estreia nacional. A trama acompanha um grupo de jornalistas investigativos que descobre uma escandalosa rede de abusos pedófilos dentro da igreja católica de Boston. A história é real e rendeu o prêmio Pulitzer (o mais importante do jornalismo) aos profissionais do jornal The Boston Globe, em 2003.
O espectador que possui alguma afinidade com o mundo do jornalismo ou da comunicação será automaticamente captado pelas discussões que o longa propõe a todo momento (estudantes, lotem os cinemas, por favor!). Os diálogos, escritos com zelo pelo diretor Tom McCarthy em parceria com Josh Singer, são ricos em dilemas típicos da profissão, tocando em questões como ética, conflitos pessoais, obstinação e até internet, já que o filme se passa na entrada dos anos 2000, momento de virada dos grandes jornais para o meio digital. A história começa a partir da chegada de um novo editor no Boston Globe (vivido por um enigmático Liev Schreiber), que logo avisa ao chefe da equipe investigativa Spotlight sua intenção em plena era de convergência online: "fazer o jornal voltar a ser essencial aos leitores". O desafio é ainda muito atual em qualquer redação.
A forma como as histórias chegam até os jornalistas recebe uma abordagem relevante na telona. O editor novato - e com pinta de forasteiro - cava a denúncia de pedofilia contra um padre local numa pequena nota de coluna, publicada sem destaque pelo Boston Globe. Aos poucos, se descobre que aquele que se tornaria um dos maiores furos do jornalismo contemporâneo havia povoado as páginas do jornal por diversas vezes, porém nunca com a atenção merecida. A equipe Spotlight descobre que, além da negligência da igreja com relação às dezenas de denúncias envolvendo crimes de pedofilia, havia também a negligência do próprio jornal com as denúncias ignoradas no passado.
Não glamourizar a profissão de jornalista é outro acerto do filme, e a própria paleta de cores em tons pasteis sugere essa ideia. É comum ver o trio investigativo - vivido com empenho por Mark Ruffalo, Rachel McAdams (ambos indicados ao Oscar) e Brian d'Arcy James - passando por maus bocados, sendo xingado, trabalhando em casa, habitando residências simples, etc. As cicatrizes que a matéria vai deixando em cada um deles - e no comandante da Spotlight, na pele do ótimo Michael Keaton - só reforça as dificuldades da profissão.
Claro que o discurso sobre o fazer jornalístico rende um saboroso molho, mas a relevância do filme e sua capacidade de atingir o espectador "comum" vai muito além. Spotlight mostra a decadência da igreja como instituição sem agredir os olhos - não há, por exemplo, cenas que que insinuem sexo entre padres e crianças. O roteiro busca outros recursos para questionar a fé do espectador. Muito da força da produção, assim como a do jornalismo, vem dos depoimentos emocionados de vítimas transformadas por um trauma, e da possibilidade de se colocar no lugar do outro.
Cinema
Vencedor do Oscar de melhor filme, "Spotlight" chega a Caxias
Longa estreia nesta quinta, apenas no GNC
Siliane Vieira
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