Não sou muito ligada a datas religiosas, mas gosto bastante do simbolismo da Santa Ceia e de tudo que envolve a preparação à Páscoa. Ainda hoje, a ideia de compartilhar o alimento e os ensinamentos com um grupo de amigos é animadora. Agora, pensar em fazer isso com quem a gente sabe que não contar é bastante inspirador. Talvez por isso sejam uma das imagens recriadas à exaustão, cada qual com o toque do artista que a idealiza na ideia de imortalizar uma concepção de amor e — para usar uma palavra da moda — gratidão.
Antes que banalize o conceito — agradecer é preciso! — é legal começar a praticá-lo no dia a dia. Lembrei disso tudo ao receber um vídeo pelo whats app durante a semana. Nele, um dos rituais mais bonitos de preparação à Páscoa, o lava-pés, era evocado. No vídeo, pessoas aparentemente opostas eram convidadas a explicitar suas posições — políticas, culturais, futebolísticas, sociais, estéticas, etc. — como em um monólogo.
Estavam vendadas e sozinhas. Em um segundo momento, as pessoas cujas ideias estavam em extremos opostos eram colocadas em interação – no caso, lavando os pés uma da outra, cada qual em sua vez, ainda com os olhos tapados, sem saber de quem se tratava e sem falar nada durante o ato. Ao final, elas tiram as vendas, surpreendem-se e estão muito mais dispostas e amáveis para olhar para as diferenças do outro. O resultado é bem emocionante.
Soube depois que o vídeo é um experimento social chamado Vendados, integrante de uma campanha sobre a Semana Santa da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A religião não entra em questão: o objetivo do filme é destacar a importância do respeito à diversidade. E é muito legal ver que, despindo-se dos preconceitos, não há motivo nenhum para que pessoas diferentes não consigam interagir.
Isso mostra que, para partilhar dias melhores, somos nós que precisamos nos desconstruir para estabelecer uma trégua. Posições que parecem inflexíveis não se sustentam quando uma das pessoas promove um ato de humildade e doação. Tão simples e difícil, né?