"Eu quero um país que não está no retrato", diz um dos versos do samba mangueirense vencedor do Carnaval 2019, História pra ninar gente grande. Eis o grande trunfo da escola: dar voz aos desconhecidos, aos esquecidos. Incomodou muita gente, é fato. Há, inclusive, quem só tenha conseguido ver oportunismo (!!!!) político por traz do enredo.
E eis a nossa grande dificuldade: ouvir aqueles que pensam diferente de nós, buscar outros pontos de vista, outros lugares de fala. Na maioria das vezes, a gente vai pelo senso comum: não vi e não gostei. Simples e sem cabimento.
Isso vale para julgar Marina Ruy Barbosa e o suposto affair com José Loretto, Anitta foliã beijoqueira ou Elaine Caparroz, a paisagista agredida dentro do próprio apartamento – o rapaz era mais novo, vê se pode... Afffe! A gente tem dificuldade de empatizar, né? Primeiro proferimos a sentença, depois, talvez, possamos dar uma nova chance...
Está ficando cada vez mais difícil. Li uma entrevista do jornalista Guga Chacra à revista Trip, onde ele evoca um episódio da série Seinfield, que diz que a pessoa "congela na vida quando casa, continua usando as mesmas roupas, ouvindo as mesmas músicas" (...) . No caso dele, diz, isso aconteceu quando deixou o país, em 2005, e tem a mesma percepção afetiva do Brasil que tinha desde então.
O ruim desse movimento (ou da falta dele) é quando isso se dissemina e nossa capacidade de espanto vai embora. Paramos no tempo, estacionamos no nosso mundinho e ele é o lugar certo.
Só conseguimos sair dessa inércia a partir da escuta ativa. Mais do que isso, da ação consciente. Você cala diante das injustiças? Você até se espanta, mas não faz nada para proteger o outro? Já parou para pensar em quanto falta para você chegar lá como ser humano?
Que pena existir tanta gente assim, que só observa. Quem não conhece vários, né? Por isso vale tanto homenagear heróis desconhecidos, lutadores anônimos que fizeram de tudo para mudar sua realidade: está cheio de gente que mal e mal só sabe falar sobre ela.
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