Na quinta-feira, visitei o novo centro de fabricação da Marcopolo, um moderníssimo espaço reconstruído a partir das cinzas da fábrica de plásticos, que pegou fogo em 2017. Os executivos, em coletiva, explicaram o processo da tomada de decisões logo após o acidente, falaram da necessidade de agir rapidamente e de encontrar soluções, para minimizar os danos à operação. Então, depois de 10 meses de obra, a área foi inaugurada. Não vou me estender nessas explicações, mas tomo o exemplo como ponto de partida para uma reflexão, como de praxe nesse espaço.
Reconstruções físicas, que envolvem fios e concreto, são muito mais fáceis de serem percebidas. Não há como negar a beleza do que está posto. Há, no entanto, uma espécie de movimento cada vez maior (ao menos à minha volta) de pessoas em busca de suas reconstruções pessoais, em diferentes níveis. Tenho a impressão que, movidas por circunstâncias suas ou dos outros, estão dispostas a tomar as rédeas das suas vidas, descobrindo quem são e do que gostam.
Não é fácil mergulhar em si e assumir os riscos de se conhecer melhor e precisar mudar. Perceber imperfeições e tentar minimiza-las fortalecendo qualidades. E não basta seguir um passo a passo, cada um precisa encontrar uma fórmula que faça sentido.
Conversei com uma amiga que perdeu quem mais amava e depois de muitas décadas de convivência, precisa redescobrir o prazer de viver apenas com a própria companhia. Conta que essa é uma luta diária, um exercício de persistência que está empreendendo com muita clareza e elegância, e já começa a sentir os primeiros efeitos da determinação. Está disposta a viver, doendo ou não.
E assim tem sido com muitos dos que interajo: estão em processo de aperfeiçoamento, corrigindo rumos, ajustando velas, remando às vezes contra a corrente, mas dispostas a acertar. Mesmo que não seja pra ontem. Mesmo que doa. As pessoas estão se estressando mais, mas também estão percebendo que, se o estresse não fizer sentido, podem encontrar outras possibilidades para si – isso implica responsabilizar-se pelas escolhas.
Aí só há uma resposta possível: viver, apesar de tudo. Acreditar em si, apesar de todas as desconfianças. Respeitar as pessoas, apesar de saber que a falta de educação está disseminada no mundo e a gentileza por si só, infelizmente, não garante reciprocidade.
Não somos feitos de aço, mas quando conseguimos nos reerguer somos mais fortes e imponentes do que qualquer construção de ponta.