– Deus sabe o que faz! – disse-me a senhorinha faceira, referindo-se à doença que a havia surpreendido há pouco tempo.
O tom da frase parecia sugerir que ela estava resignada com o seu destino, mas logo tratou de me surpreender.
– Mas, se Ele quiser me buscar agora, vou ter que recusar e pedir mais um tempinho. É que eu adoro viver, sabe? – contou a octogenária, às gargalhadas, cheia de planos para quando puder voltar à ativa.
Não são justamente os planos que nos mantêm focados e esperançosos no dia de amanhã? É pouco lindo ver alguém com ganas de viver, de enfrentar desafios? Alguém que consegue se colocar em primeiro lugar e exercita – com força – o amor próprio. Parece óbvio, mas não é.
Vamos fazer um teste?
Pense em três coisas que você ama muito.
Depois em mais duas.
Depois em mais cinco.
E podemos até parar por aí.
Família, filhos, companheiro, animais de estimação, viagens, um lugar especial, um ato carregado de afeto, como cozinhar para quem se gosta, devem ter aparecido. E quantas delas (ou em que posição) você se colocou? É possível que, nessas 10 sentenças, você sequer tenha aparecido.
Grave, né?
Universitários aplicaram essa pesquisa informal por um campus e perceberam que as pessoas lembram de mencionar a si mesmas apenas lá pela 70ª posição. Sério. Isso mostra que, apesar de pregarmos o amor próprio e reconhecermos sua importância, não o praticamos. É uma pena, porque só a partir desse nosso processo de conhecimento e aceitação que conseguimos valorizar mais aqueles que estão à nossa volta. Conseguimos aceitar que controlamos menos coisas do que gostaríamos, aceitamos a possibilidade de sermos surpreendidos pelo acaso. E nos deixamos levar pela cumplicidade com o outro, pelo alento que ganhamos ao parar para olhar para dentro.