Eu ainda era uma criança quando ele me levou ao Alfredo Jaconi para assistir a um jogo do Ju x Grêmio. Naquela tarde, ele perdeu os dois únicos gols da partida, porque eu queria: 1º um cachorro-quente, 2º fazer xixi. Até hoje eu e meu pai rimos dessa história boba, que mostra que estamos (e estaremos) juntos nos momentos divertidos e nas partes menos engraçadas dos acontecimentos da vida.
Num período da adolescência, estava toda chateada porque não tinha certeza se deveria contar a um menino que gostava dele. Pior: achava que não seria uma boa ideia ele saber do meu sentimento. Aquelas inseguranças em relação a relacionamentos, sabe? Pois então, meu pai disse algo que não esqueci: gostar não é uma coisa boa? Qual é o problema, então, de alguém saber disso? Talvez ele nem lembre dessa conversa, mas decidi levar o conselho à risca. Gosto? Digo! Sempre. Outro aprendizado "pra vida" é o método que ele usava para estimular o senso de justiça e igualdade entre mim e minha irmã, Tine – metaforicamente, ao fazermos divisões de guloseimas, éramos obrigadas a evocar a empatia –, 'uma parte, a outra escolhe'. Fazemos isso até hoje, em quase tudo.
Sei como tenho sorte por poder conviver com meu pai desde sempre – um amigo sequer conheceu o seu, outro praticamente não conviveu com o genitor, o meu pai mesmo perdeu o dele muito cedo – e contar com ele. Ouço recorrentemente que sou parecida fisicamente com meu pai e que tenho um trânsito social idêntico ao dele, o que acho uma graça. Ele é do tipo que adora cozinhar, reunir pessoas, contar histórias e que tem um monte de apelidos, de tanta gente de 'mundos' diferentes que tem por perto. Discordamos em vários pontos, temos algumas opiniões antagônicas sobre a vida e as pessoas, mas também sabemos respeitar nossas diferenças (como bons gringos, às vezes, em alto e bom tom!).
Uma pessoa especial na minha vida me disse certa vez que, em um momento triste, só queria poder correr para o colo do pai dele, que já não estava mais aqui. Acho que pai tem um pouco disso: representa a segurança, dá uma tranquilidade boa mesmo durante as intempéries. Ele é a pessoa que nunca vai abandonar o barco e vai seguir remando no temporal. Ou vai curtir o movimento do mar em dias calmos e ensolarados. Ou vai construir o barco. Ou vai colocar a prole num lugar seguro até a tempestade passar.