Leio um poeta que diz preferir se apresentar por aquilo que o assusta. Argumenta que essa seria uma maneira mais rápida e verdadeira de conhecer alguém a fundo. De criar empatia, de tentar diminuir a idealização, que costuma estragar tudo.
É pouco triste descobrir, depois de um tempo, que uma pessoa está bem longe de ser aquilo que a gente tinha imaginado sobre ela? Claro que esse também é um problema nosso, de criar uma expectativa que ninguém tem obrigação de corresponder. Né?
Nem sempre todos os nossos medos são claros e conscientes. Os meus mais óbvios são medo de aranha e de altura. Aranha não consigo ver nem por foto, altura eu até tento superar, faço concessões – entro em aviões com friozinho na barriga, não deixo de viajar por causa disso, mas jamais pularia de paraquedas ou bungee jump. Embora sejam informações verdadeiras, dizem bem pouco sobre mim. Os medos que podem me definir são mais profundos e difíceis de serem verbalizados. Tenho medo de perder para sempre as pessoas que amo. De ficar indiferente às mazelas do cotidiano. De magoar as pessoas. De ser magoada de verdade. E de outras coisas que nem sei ao certo definir.
O medo declarado, nesse caso, pode significar a capacidade de se abrir ao outro, de mostrar um lado obscuro, sem charme ou potencial de sedução, para ver se as pessoas ao redor topam entrar no nosso mundo do jeito que somos – e apesar do que somos. Pode ser um convite a compartilhar o nosso melhor e a parte não tão boa, na companhia de pessoas que nos ajudem a não paralisarmos diante daquilo que nos provoca hesitação.
Dividir o que desagrada em nós é uma forma também de exorcizarmos nosso lado sombra, de nos aceitarmos, de nos conhecermos e de nos revelarmos sem máscaras.
Em conversa recente com uma mulher de lucidez impressionante sobre o que a angustia, ela disse acreditar que não temos o valor que supomos ter – não disse isso de forma depreciativa. Defende que somos apenas instrumentos, para aprender com nossas experiências ruins, atribuir sentido a elas e mostrar uns aos outros que somos testados a desafiar nossos medos e crenças o tempo todo.
A graça da vida reside exatamente nisso: na possibilidade de se (re) conhecer a cada instante. Olhando para si ou se espelhando no outro.