Gosto de gente que olha nos olhos enquanto conversa, que se permite demonstrar os sentimentos à medida em que a fala flui. Tenho a impressão que isso abre uma porta para se penetrar no interior da pessoa, de um jeito único.
Às vezes, pode ser até mais revelador do que a própria conversa.
Imagino que você já tenha visto um videozinho na internet em que casais que estavam juntos há muito tempo se olhavam demoradamente pela primeira vez em todos esses anos de convivência. Só assim, passaram a perceber o outro 'de verdade'. Existe até uma pesquisa que atesta: bastam três minutos de troca de olhares intensas para que duas pessoas (até desconhecidas) se apaixonem.
Observando ao redor, dá pra perceber que olhar o outro – e nem estou sendo metafórica – é cada vez mais raro.
Quer ver? Observe: quantas pessoas estão com os olhos fixados numa telinha de celular? E quantas delas conseguem abrir mão de interagir nesse universo virtual para dar atenção a alguém no mundo real? Nós já nos condicionamos a nos dividir entre quem está na nossa frente e quem está longe – ao mesmo tempo, sem que nenhuma delas tenha nossa atenção exclusiva.
Já virou uma prova de amor alguém deixar o celular de lado para se centrar no tempo presente. Carpe diem é cada vez mais uma tatuagem linda, quase impossível de ser cumprida nesse mundo hiperconectado e multifacetado.
O que mais me angustia é que, se não conseguimos (ou não nos interessamos por) olhar nos olhos de alguém profundamente durante uma conversa, como vamos olhar para ela de verdade? Como vamos nos conectar e permitir sermos tocados por alguém?
O único jeito é deixar a telinha de lado (mesmo que os dedos cocem) e buscar a conexão mais real que existe: olho no olho, estendendo o olhar para a totalidade de quem está conosco.