Vocês já se deram conta que a gente está sempre correndo atrás da máquina? Não basta acordar cedo, ir trabalhar... Tem que chegar em casa e organizar, limpar, cozinhar. Finais de semana de sol? São ideais para lavar a roupa, aproveitando a facilidade de secá-las e para passar um pano no chão, já que os dias andam tão úmidos. E esse é quase sempre um programa solitário – tanto para as solteiras, quanto para as casadas.
Dia desses, ouvindo conversas no salão, me deparei com mulheres comentando o quanto estavam exaustas de trabalhar o dia inteiro e, ao chegar em casa, precisar arrumar a casa e providenciar a refeição, além de cuidar dos filhos. Uma ou outra ponderava que tinha dado a maior sorte na escolha do partner: o marido era sensível e ajudava nas tarefas. Ou seja, "fazia o favor" de se envolver na rotina da família. Algumas delas são mães de meninos e eu perguntei se não seria legal mostrar para os gurizinhos que os afazeres domésticos também são responsabilidade deles, que dividir tarefas não é fazer um favor para a companheira. Significa tornar a vida de ambos mais equilibrada, mas não parece tão óbvio.
Sei que essa é uma mudança difícil de ser feita, porque o assunto é complicado de ser tratado. A ideia do protagonismo feminino no lar ainda está muito disseminada. Uma pesquisa divulgada pelo instituto Locomotiva para a revista Donna, aponta que 67% dos homens da Região Sul concordaram que as "mulheres são melhores donas de casa do que os homens". E eles não acham que existe sexismo na afirmação.
O instituto notou, no entanto, que as mulheres estão cada vez mais descontentes com aquilo que é proferido como um elogio: a habilidade de conseguir realizar um monte de tarefas simultaneamente. Ou, o que eles chamam de "glamourização da terceira jornada de trabalho".
Na Região Sul, só 22% dos homens dividem igualmente as tarefas da casa com as parceiras – a tarefa em que são mais presentes é na administração das contas do lar (43%). O que eles fazem a mais do que a gente? Recolher o lixo (53%) e dirigir (65%). E o problema da desigualdade não se encerra por aí, não se resume à esfera doméstica. Um homem nascido em São Paulo, de 39 anos, na terceira geração de uma família com acesso ao ensino superior, ganha 64% a mais do que uma mulher nascida em São Paulo, de 39 anos, na terceira geração de uma família com acesso ao ensino superior. Mas enquanto a gente aceitar isso, ficar feliz com pequenas "ajudas" e achar que é normal, vai demorar pra mudar. Se nas empresas são poucas as mulheres que ocupam cargos em que podem tomar decisões, dentro de casa a situação é outra: cabe a nós essa microrrevolução.