Uma obra produzida em 1982 pelo norte-americano Jean-Michel Basquiat foi vendida por 110,5 milhões de dólares (ou R$ 370 milhões), num leilão, há dois dias. O bilionário colecionador japonês afirmou que pretende exibi-la ao público, em museus mundo a fora. Se pararmos para pensar na crise global, parece fazer pouco sentido que alguém gaste/invista tanto em algo que tem um valor essencialmente simbólico. Mas essa é uma percepção um pouco rasa.
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Tive um pouco dessa impressão ao participar de coletiva sobre uma importante nova exposição que está sendo montada em São Paulo. Enquanto discutíamos detalhes de pinturas ou criadores, do lado de fora da sala só se falava que, mais uma vez, o país entrava em colapso político e moral.
Assuntos duros do cotidiano, com repercussão imediata, ficaram de fora da sala, como se não houvesse espaço para mais nada. Lá pelas tantas, o curador Paulo Herkenhoff, um senhor incrivelmente culto e bem articulado, começa a fazer relações como se estivesse imaginando minha aflição diante dos dois mundos (o de dentro e o externo à sala). Citou outro curador, Mário Pedrosa, e taxou: a arte é o exercício experimental da liberdade. E, na sequência, disse que "em tempos de crise é preciso estar com os artistas".
Ou seja, é preciso de subjetividade para encarar o mundo de forma mais leve, para aguentar o cotidiano.
Porque, se a arte não muda o mundo, ela pode ao menos transformar nossa percepção sobre o mundo em que vivemos.
Opinião
Tríssia Ordovás Sartori: arte e visão
É preciso de subjetividade para encarar o mundo de forma mais leve, para aguentar o cotidiano
Tríssia Ordovás Sartori
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