Depois do tal Samurai da Federal, o hipster na equipe da PF que prendeu Eduardo Cunha nesta semana, minha timeline foi invadida, também, pelo cozinheiro-sensação Franco Noriega. O modelo peruano descoberto por Mario Testino tem sido apontado como o chef mais bonito do mundo, imagem que ele ajuda a construir ao cozinhar sem camisa, ostentando um corpo magro e com músculos – sim, todos os que vocês possam imaginar que existam!
Passado o frisson inicial – e revelada a identidade do bonitão – houve quem se decepcionasse com as posições políticas e sociais do policial, com direito a promoção de um broxaço virtual. E a criatura só estava trabalhando e possivelmente nem pensava em ter a vida exposta só porque alguém o achou bonito e gostou do coque que usava naquele dia.
Sobre Noriega, posso imaginar que pouca gente vá tentar reproduzir em casa as dicas saudáveis do modelo, embora ele tenha propriedade para falar sobre comida, já que estudou na famosa escola de gastronomia Le Cordon Bleu e cursa no International Culinary Center de New York. Por dois ou três dias, serviram como assunto em rodinhas de conversa – e crônicas (faço mea culpa)! Ah, essa modernidade líquida...
O que raramente problematizamos é sobre como esse culto à superficialidade alimenta um ciclo infindo de superexposição, necessidade de aprovação, vida fake para ser postada, frustração provocada nos outros e idealização de uma vida perfeita, que se resume a meia dúzia de imagens com luz bonita e textos com palavras bem escolhidas para impressionar os amigos. E nós acreditamos, compramos e reproduzimos.
Lembrei a entrevista concedida pelo escritor mineiro Luiz Ruffato, que participou de um bate-papo durante a Feira do Livro de Caxias, onde versou sobre isso, só que com um viés, obviamente, mais literário: “As pessoas conhecem muito mais o escritor do que a obra dele, vão muitas vezes a festivais literários e a feiras do livro pra ver o escritor, e não para lê-lo. E isso é uma pena, porque você quebra um pouco aquela relação saudável que deveria haver entre você e o livro; não é entre você e o escritor. Porque o que o escritor diz a respeito do seu livro é uma possibilidade de leitura, e aliás, quase sempre nem é a melhor leitura que se faz”.
O que os bonitões têm em comum e, para mim, o aspecto mais interessante da comoção provocada por eles, reforçada pela fala de Ruffato, é justamente o que ela revela sobre o modelo de relações que estabelecemos com os outros: somos demasiadamente preocupados com a forma, e isso quase basta. É natural que nossos encontros sejam superficiais e não tenhamos vontade de nos aprofundar no outro – afinal, isso pode revelar quão rasos podemos ser.