O que são sonhos se não nosso íntimo se jogando astralmente num futuro ideal?! O que são sonhos que não nossa criança perdida achando o caminho de volta pra casa?! O que são sonhos que não o vislumbre insone das metas alcançadas?! O que são sonhos se não o objetivo querido ao alcance das mãos?! O que são sonhos?
Há quem viva de sonho e esqueça que a realidade do hoje poderia ter sido sonhada ontem. Essas pessoas perambulam pela terra opacas, desabrilhantadas no cotidiano e só enxergam o onírico. Estão no pé da escada se enxergando no degrau final, sem ter a ciência de que o destino é, também, o caminho.
Há quem não sonhe nunca. Morrem dentro dos dias. Se entregam ao livro de ponto e são, tão somente, a assinatura do próprio nome - legível, escrito sempre em caneta azul. Estão cotidianamente dormindo, acordando e se entregando às profundas dores e às pueris alegrias do ofício. Labutar é o que sabem fazer pois, possivelmente, nunca foram ensinadas outra coisa. Formam massa grossa populacional e sustentam o mundo sem ao menos se darem conta de que os sonhos que não sonharam são realizações de seus patrões.
Há, felizmente, os sonhadores profissionais, que não precisam nem dormir. Vivem enquanto sonham, sonham enquanto vivem. Se abastecem de vitórias, mesmo as mínimas. Comemoram cada conquista e, momentaneamente, se debruçam sobre ela, a acariciam e sentem cada partícula de prazer que ela entrega, mas sem vaidades bobas. Andam pelo mundo com bagagem grande, ansiosos pelo próximo dia, pois veem nele possibilidades infinitas.
Eu sonho pouco, mas o faço sem pudor. Sonho com grandiosidade, destemidamente. O que quero, quero muito e com desespero. Miro meu objeto desejado e disparo em sua direção, não poupo esforços. Mas, nem sempre foi assim.
Já tangenciei à vida sem me dar conta do privilégio da existência, sem perceber que toda hora é tempo de refazer as metas, reprogramar os dias e sonhar coisas novas. Já sonhei de maneira medíocre e já passei tempos sem sonhar. Sobretudo, já ludibriei minha própria personalidade, desprezei minha sina de vencedora e aceitei que o pouco era suficiente.
Tempos idos esses e sou grata por não ser mais quem fui. Com persistência e dor, enfrentei meu passado e minhas fragilidades, exorcizei meus fantasmas, me encarei no espelho e me permiti ser mais. Mais e muito mais pra mim, por mim, pelos meus.
Me fiz sonhadora na prática, crente que esse ano eu não morro e, com sorte, nem ano que vem. Vi que meu castelo é palpável, comecei a juntar os tijolos, construir paredes e pontes. Tenho necessidade de autoproteção e conexão. O tempo vai indo e eu vou me reconhecendo, traçando metas pra hora, pro dia e objetivos pra a vida inteira.
Tenho tido pequenas vitórias e imensas batalhas. Comemoro e luto na mesma proporção, nada é derrota. Invencível, carrego minha coroa com graça e força, não há nada que possa me superar além de mim mesma.