![Arte de Charles Segat Arte de Charles Segat](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/1/3/6/9/3/1/5_2585640601b7660/5139631_89e108509f24946.jpg?w=700)
Associamos Aquário aos sonhos coletivos de futuro, incluindo aí as utopias, e sempre que há alguma movimentação no céu aquariano, logo nos apressamos a imaginar que o amanhã já vai chegar, exatamente como o imaginamos. Mas esquecemos que, até pela regência do errático Urano sobre o signo, são comuns as imprevisibilidades nas rotas do futuro. E basta evocarmos a regência antiga de Saturno para lembrar que dá trabalho concretizar visões. Sim, antes de a grande fraternidade humana tornar-se real, haverá mil muros a derrubar e milhões de pedras a afastar do caminho.
Ah, tudo bem, Aquário é um signo fixo, de meio de estação, dotado de persistência e obstinação. Não será qualquer barreira que o demoverá dos seus ideais, mesmo que aos olhos alheios tudo pareça apenas sonho. E qual o problema de ser sonho? A propósito, como na canção do Bituca, “sonhar já é alguma coisa mais que não sonhar”. E se as condições parecerem adversas, vale lembrar do pensamento da multiartista e militante Patrícia Galvão, a Pagu: “Tenha até pesadelos, se necessário for, mas sonhe!”.
Pois bem, falemos de sonhos e pesadelos. A recente entrada de Plutão em Aquário, para uma longa pauta de transformações que vai durar 20 anos, ativa os temas aquarianos com a intensidade peculiar do planeta das profundezas. No começo do signo que pensa em fraternidade e diversidade, em justiça social e em tecnologia, em partilha de um mesmo lar planetário e em ampla comunicação, Plutão tanto acirra os ânimos pela efetivação de conquistas em tais áreas quanto expõe os entulhos que impedem as mesmas conquistas.
Autora de vários livros de astrologia, Tracy Marks observa que, em seus processos de transformação e cura, Plutão libera primeiro a energia que considerávamos negativa – raivas, desejos frustrados, ódios. Ou seja, todos os venenos que obstruem o equilíbrio e que se tornaram deformados porque se acumularam sem a luz da consciência e da aceitação. Somente após a transmutação desses sentimentos, a energia poderá fluir para, digamos, propósitos construtivos. Em outras palavras, algum pesadelo poderá se fazer necessário antes do sonho possível.
No contexto global, identifico essa ameaça de pesadelo na proposta de governo do novo/velho presidente dos Estados Unidos, cujo nome nem gosto de citar. Anacrônico e reacionário, ele encarna o oposto dos ideais aquarianos. Quando urgem ações coletivas em busca de soluções para a gravíssima questão climática, ele a nega e toma a direção contrária. Quando a complexidade do mundo, alavancada pela onipresença das comunicações tecnológicas, exige respeito pelas diversidades humanas e culturais, ele restringe, condena e expurga o que considera estranho. E mesmo o espaço comunicativo, que deveria ser democrático e justo, surge autoritário e prepotente. Um pesadelo aquariano!
O ressentimento de uma nação que há tempos vê ruir sua ilusão de senhora do mundo alimenta esse líder supostamente restaurador de glórias passadas. Mas ilusão maior é achar que o ódio constrói alguma coisa, ou que o mundo vai aceitar impassível fanfarronices grotescas. Com seu signo ascendente em Leão (oposto a Aquário e símbolo do ego), e com seu belicoso Marte também em Leão, o tal presidente, cheio de si, olha para trás, querendo restaurar uma idade de grandeza imperialista. Só que Aquário aponta para a frente, para o futuro, que deve contemplar múltiplas visões e o zelo essencial pelo ambiente.
Não quero perder o sono pensando nas possíveis manifestações desse pesadelo armado. Prefiro lembrar que Plutão também rege a liberação da força oculta necessária para enfrentarmos difíceis transições. E como na canção com letra do aquariano Ronaldo Bastos, só sei que: “Vamos precisar de todo mundo / Pra banir do mundo a opressão / Para construir a vida nova / Vamos precisar de muito amor”. Sonho meu, um alento na travessia.