
Em clima de Dia Internacional da Mulher, a coluna reverencia autoras da Serra e suas respectivas inspirações literárias. Foram convidadas a participar as patronas da Feira do Livro de Caxias do Sul.
Elas compartilham conosco quais escritoras são referências para elas, nos instigando a percorrer suas narrativas, revisitando leituras ou até conhecendo novos percursos através do sedutor mundo da literatura.
P.S.: O desafio era indicar uma autora e uma respectiva obra. A escritora Lisana Bertussi, contudo, rebelou-se e indicou duas.
Confira a seguir:
Helô indica Lygia

— O alto nível técnico da obra As meninas (1973), de Lygia Fagundes Telles causou grande impacto na minha cabeça. Tinha mais ou menos 18 anos quando conheci a potência de sua escrita e a forma como abordou temas como desigualdade social, questões políticas, sexualidade e feminismo. A literatura inovadora de Lygia (envolta na sedução do imaginário e da fantasia) continua viva dentro de mim, tocando fundo, me levando a pensar e a(re)visitar sua obra para poder evoluir como ser humano e profissional — Helô Bacichette, patrona em 2024.
Maya indica Lúcia Machado

— Um dos mais famosos títulos da Série Vaga-Lume, O escaravelho do diabo, de Lúcia Machado de Almeida, que lançou clássicos da literatura infantojuvenil e formou gerações de leitores entre as décadas de 1970 e 1980. Ele foi originalmente publicado em capítulos em uma revista no ano de 1956 e é atemporal. Foi o primeiro livro "grande" que me conquistou e abriu portas para outros que vieram depois, criando um hábito que é fundamental para minha carreira. Foi tão marcante que ainda lembro da história, quase 35 anos depois de ler — Maya Falks, patrona em 2022.
Alessandra indica Hilda

— Hilda Hilst (1930-2004) foi fundamental na minha trajetória de escritora e pesquisadora, e sobretudo como leitora angustiada com a voracidade do tempo e outras sutis e não menos graves questões que atravessam a existência. A partir de sua obra poética, mais tarde reunida em Da poesia (2017), me debrucei sobre possíveis variações da experiência temporal, restando-me ao final do percurso algum alento. A Casa do Sol, em Campinas (SP), sítio onde a escritora viveu para se dedicar inteiramente à sua arte e à profundidade de seus afetos, ainda é campo fértil para meus estudos subsequentes sobre a exuberante mulher que ela foi e as possibilidades de criação continuada a partir desse vasto legado de vida e obra — Alessandra Rech, patrona em 2021.
Rejane indica Clarice

— Quando li, aos 18 anos e cursando o primeiro semestre da faculdade de Letras, o livro Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector, fiquei fascinada. Ali estavam todos os elementos de um grande romance: a capacidade de dizer o indizível, inusitadas metáforas, construções anômalas e originais, uma viagem de descoberta da alma e um hino ao amor. Este livro influenciou toda a minha carreira como escritora — Rejane Romani Rech, patrona em 2018.
Natália indica Carola

— Um livro que se tornou fundamental para mim, que me ajuda a refletir é O mundo desdobrável: ensaios para depois do fim, de Carola Saavedra. Não é um livro de ficção, mas um grande ensaio fragmentado sobre literatura, epistemologia, ancestralidade, permacultura, psicanálise, o romance moderno e mil possibilidades de invenções. Fundamentalmente, é um ensaio que pergunta: o que pode a literatura em um mundo em colapso? O que pode a literatura num mundo em que a imaginação está sendo esmagada pela urgência? Uma das respostas do livro nos convoca justamente a exercitar a nossa imaginação, até mesmo para que tenhamos respostas nunca antes pensadas, novos cenários e visões. Recomendo demais! — Natalia Borges Polesso, patrona em 2017.
Lisana indica Clarice e Lygia

— Clarice Lispector com Laços de família, em que destaco os contos Feliz aniversário em que se desvelam as falsas relações afetivas de uma família no aniversário da avó centenária e o conto que dá título ao livro, em que a frieza do vínculo entre mãe e filha se reflete na gagueira do filho. E Lygia Fagundes Telles com os magníficos contos As cerejas (desvelamento da iniciação sexual de adolescente) e A mão no ombro (em que poetiza a passagem da vida para a morte). Magníficas pela originalidade dos temas e pela profunda capacidade de sondagem psicológica que muito desenvolvo em meus contos. Mestras as duas — Lisana Bertussi, patrona em 2016.
