Passeando tranquilamente pelo shopping, deparo-me com um casal de conhecidos. Antes de me aproximar, percebo gestos exagerados, como se estivessem brigando. E estavam. Tentei a todo custo contornar o caminho. Fácil, pensei, é grande a quantidade de pessoas ocupando os corredores. Mas minha intenção foi frustrada: a esposa me viu. Imediatamente parou de falar com o marido e, acenando com as duas mãos, convidou-me para ir até eles. Ai, Jesus, pensei, vão dar vexame. Como conhecia o seu histórico de tapas e dramas, adeptos de lavar a roupa suja em público, já sabia o que me esperava. E não deu outra. Discutiam a propósito de um possível envolvimento da mulher com um colega de trabalho. E sabe o que ele me indagou? Se achava possível isso ter acontecido. Vocês conseguem imaginar algo mais constrangedor? E eu lá, tentando desviar do assunto, perguntando como vão os filhos, a cunhada, o cachorro. E nada. Insistiam, com voz alterada, para eu opinar. Com esforço consegui contornar a situação, trocando a resposta pela dica de resolverem a querela quando estivessem calmos, sozinhos. A muito custo, deu certo. Porém, saí nervoso, transpirando.
Naquele instante, refiz uma promessa que, há tempos, coloco em prática: nunca, sob hipótese alguma, desentender-se em público, debatendo problemas afetivos, pois devem ser resolvidos em casa, com a porta fechada, sem ninguém para testemunhar. Isso é feio demais. Como alguém se comporta dessa maneira? Acho uma completa falta de respeito para com os outros. Lembro de ter saído desse encontro acidental chateado. Em vários momentos, diante da resistência em pararem e esgotados os meus argumentos, só queria desaparecer. Conversando com amigos depois do ocorrido, fizeram relatos sobre circunstâncias idênticas pelas quais passaram. Ou seja: é bastante comum. Um deles disse ter visto tal cena em uma festa de aniversário de casamento. Desaparecem os limites e a falta de pudor. Escolhem o pior momento para se aliviarem de seus conflitos amorosos. Prefiro morder a língua a vivenciar algo semelhante. Naquela hora, senti uma imensa vergonha alheia. E pensei: se fazem em meio a tanta gente, como será ao estarem sozinhos? Por que não se separam? Difícil responder.
Enfim, agora é apenas um registro na memória e tema deste texto. Mas para mim teve um imenso impacto e revalidou a certeza de que a palavra “privado” ainda precisa ter um grande valor. Algumas coisas devem ser solucionadas no âmbito doméstico, sob o risco de nos tornarmos agentes de embaraços. A propósito, também fico sem graça se duas pessoas parecem estar prestes a praticar uma relação sexual com direito a plateia. Demonstrar carinho é saudável e bem-vindo. Sem excessos, no entanto.
Fica a sugestão para todos nós: discrição é – e sempre será – a melhor opção se estamos em um espaço coletivo. Contenha a raiva ou correrá o risco de ser uma patética atração. Pior: sem receber cachê por isso.