No livro A República, Platão conta a história de Giges, um humilde pastor submetido a uma prova, depois de ter achado um anel que o tornou invisível. O filósofo propõe o seguinte: como você reagiria, moralmente falando, diante disso? Firmaria seus princípios ou se permitiria tudo? Esse dilema atravessa os séculos e ainda suscita divagações. As decisões que tomamos dependem de haver testemunhas? Os freios sociais nos impedem de fazer o que quisermos, na certeza de haver castigo? Evito uma resposta precipitada, pois é o tipo de situação na qual a teoria é meramente especulativa. Mas é uma rica possibilidade para indagar os motivos dos nossos comportamentos. Em uma época de egos inflados, é improvável crer na capacidade de nos conservarmos ilibados caso as ações escapem de qualquer pena. O olhar do outro e a presença da lei são forças coercitivas e reprimem os instintos, firmando assim os pilares da civilidade. A tendência será de dizer publicamente que a retidão independe da vigilância alheia. Porém, é complexo e precisamos ponderar bastante ante uma afirmação categórica. Somos constituídos por camadas e mais camadas de subjetividade. Nem sempre os desejos e os atos seguem na mesma direção.
Encruzilhada
Opinião
E se você fosse invisível?
O conceito de comunidade e seu consequente valor para a sobrevivência da espécie desbotam quando confrontados com os interesses de cada um
Gilmar Marcílio
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