Difícil passar uma semana sem esbarrar em alguém proferindo a frase: “Desculpe, estou sem tempo.” O que ela significa, essencialmente? Nada, pois traz consigo uma inverdade. Todos têm à disposição vinte e quatro horas por dia. Pobres ou ricos, ocupados ou ociosos, pouco importa. A cota é distribuída igualitariamente. Na realidade, há uma priorização de determinadas ações em detrimento de outras. Andamos viciados em preencher cada minuto com as mais diversas atividades. Deixar de fazer, ponderamos, é desperdiçar preciosos momentos. Será isso mesmo? Faça a pergunta a um monge, por exemplo, e ele lhe dirá que a melhor maneira de apreciar a existência é contemplando, interferindo o mínimo possível. Cortar, reduzir, ir em busca do essencial representa a possibilidade de olhar para dentro de si e obter resultados reais. E sem atravessar esse processo de auto-observação seremos apenas um mecanismo biológico desgastando-se até sair de cena. Se repararmos mais atentamente, as pessoas que tanto reclamam elegem prioridades que as distraiam da sua própria companhia. Cuido para não acontecer isto comigo. Gosto de encontrar meus amigos e aproveito qualquer oportunidade para estabelecer vínculos. Porém, se não apreciasse a solidão consentida, as conversas serviriam apenas de bengala para escapar da sensação de isolamento. Através do contato com nós mesmos reconhecemos a nossa geografia interior, inclusos aí defeitos e qualidades.
Trem da vida
Opinião
Desculpe, estou sem tempo
Depende de cada um realizar várias paradas ou chegar ao destino sem ter conhecido, profundamente, qualquer paisagem
Gilmar Marcílio
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