Há os que se vangloriam de guardar ressentimento por outra pessoa durante anos a fio. Alimentam-se dessa raiva como uma espécie de troféu, considerando tal comportamento um ato digno de admiração. Ignoram o elementar: envenenam o próprio ser, sobrecarregando-o com emoções negativas. Mas, ao contrário dos que assim creem, a grande tarefa é esquecer. Penso a respeito disso ao rever mentalmente uma cena da série Silo, distopia apresentando um mundo pós-apocalíptico, onde os sobreviventes ficam presos em uma área restrita, com medo de voltar a caminhar pelos espaços abertos do planeta, agora contaminados com ar letal. Dentro dessa nova e obscura realidade, os líderes resolvem comemorar, anualmente, o dia do perdão. Na data marcada, todos se esforçam para tornar o rancor menos violento para a alma. Abraçam-se e se propõem a desconsiderar o que tanto pesava em seu interior. Talvez nunca cheguemos a criar efeméride parecida, mas pensar nisso como um exercício de libertação já é relevante. Faço este convite a você e a mim, nesta época permeada de escassos valores.
Ato catártico
Opinião
O dia do perdão
Ao transformar pequenos agravos em mágoas gigantescas, estamos colocando sobre os ombros um peso gigantesco
Gilmar Marcílio
Enviar email