Assemelha-se a uma epidemia: pessoas falando de si próprias o tempo todo, em profusão incontrolável. Na semana passada fui vítima de um desses ataques narcisistas. Fiquei esgotantes cinquenta minutos ouvindo, ouvindo. Tenho certa propensão ao acolhimento. O drama humano me fascina, mas quando há troca e um real interesse em “abraçar” situações aflitivas. A criatura mal respirava entre uma frase e outra. E, para completar, manifestava atenção zero nas minhas observações. Nos raros instantes em que conseguia fazê-las, obviamente. Houve uma hora em que me abstraí, para tentar afastar o tédio. Foi o jeito de me proteger, preservando-me de uma sufocante aceleração cardíaca. A partir de determinado momento fiz um exercício de alheamento, como se estivesse admirando uma paisagem. Chegou a ser quase engraçado, pois dos meus lábios saíam apenas monossílabos, e mesmo assim, esporadicamente. Mais tarde, conversando com um amigo, ele disse passar por isso também. E nos questionamos, quase em uníssono: em algumas ocasiões somos quem criticamos e sequer percebemos? Não parece ser o caso, pois a renovada tentativa de sermos gentis e educados nos afasta dessa armadilha da autorreferência.
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Ataque narcisista
Se há um lado bom nestes discursos sem fim é eles ajudarem a treinar a paciência
Gilmar Marcílio
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