No belíssimo filme Close, candidato da Bélgica ao Oscar 2023, vemos duas crianças (ou pré-adolescentes) correndo livremente numa propriedade rural repleta de campos de flores, inventando histórias e se divertindo. Ao final do dia, exaustos pelas múltiplas brincadeiras, pedem permissão aos pais para dormir no mesmo quarto. A relação de cumplicidade e carinho nutrido por eles se mostra latente e esse querer se revela fisicamente. Um repousa com a cabeça debruçada no peito do outro, dão-se as mãos, olham-se para demonstrar afeto, ternura. Estão na idade em que os códigos comportamentais estabelecidos e as inibições ainda não ocupam o lugar central da vida adulta. A escolha do diretor é nunca nomear o sentimento que os une: amizade, amor ou admiração. Aqui pouco importam as definições, mas o exercício de liberdade de pessoas descobrindo a si e ao mundo. Porém, vai surgindo um grande problema. Mesmo em sociedades liberais como a que estão inseridos, grassa o preconceito. Bastante discreto, mas ainda assim capaz de inibir os laços entre pessoas do mesmo sexo. Meninos? Nem pensar! A consequência da interdição será trágica e se verá ao longo do doloroso processo de amadurecimento.
Liberdade
Opinião
Entre meninos
Somos coagidos a deixar de lado o jogo poético para sermos entronizados no áspero universo da masculinidade
Gilmar Marcílio
Enviar email