Sempre apreciei conversar com desconhecidos quando estou em uma fila ou sala de espera. Acho esse pequeno exercício de socialização bastante simpático. Talvez nunca mais esbarre nessa pessoa, pouco importa. Vale mesmo é o aceno, o contato ligeiro nos fazendo sair de nosso mundo particular. Ficamos conhecendo fragmentos de vidas alheias, expandindo a compreensão para além de nós mesmos. Mantive essa prática durante muitos anos, mas agora sinto dificuldades para continuar exercitando o hábito. A culpa? Das redes sociais, é claro. Raramente vejo quem não responda de forma compulsiva seus whats ou bisbilhote no Instagram. E aí fica difícil interromper tal “concentração”. Sim, pois dá a impressão de todos se debruçarem sobre algo importante, importantíssimo. Fico triste ao constatar isso. Guardo certa nostalgia do tempo em que nos aproximávamos, com delicadeza, de quem se encontrasse com um livro nas mãos. Um livro, veja só. Ao ver a disponibilidade do outro, éramos tocados pela alegria: “Também li, gostei demais, os personagens são inesquecíveis”. Tudo parece ter acontecido num passado remoto: na verdade foi anteontem.
Convivência
Opinião
Cada um na sua
O que leva tanta gente a desistir de aprofundar os contatos?
Gilmar Marcílio
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