Terminei de ler o divertido romance “Você nunca mais vai ficar sozinha”, da escritora e roteirista Tati Bernardi. O título é instigante e ambíguo. Pode significar: ser mãe é o fim absoluto da solidão, pois elas jamais deixarão de se sentir responsáveis pelos seus filhos. Mas também representa a impossibilidade de se recolher em busca de algo estritamente pessoal, aquele prazer minúsculo – ver um filme, ler sossegadamente um livro – sem ser interrompida a todo momento por alguma reivindicação, principalmente na infância e adolescência. Nos últimos tempos esta vai se prolongando até os quarenta anos, aliás. Em outras palavras: toda escolha traz embutida uma renúncia, geralmente várias. A partir dessas observações surgidas ao término da leitura, lembrei de amigas e seus lamentos ao me dizerem como são constantemente cobradas por rejeitar a ideia da realização feminina sendo sinônimo de maternidade. Finda a idade fértil, passam ao largo do arrependimento por seguirem com seus propósitos. O da liberdade pessoal, por exemplo. Adoram ser donas de si mesmas. Entram e saem de casa a hora que bem entenderem, furtando-se de dar satisfação a alguém. Nada contra quem tenha resolvido obedecer ao mais arraigado instinto humano, fruto da biologia ou do condicionamento. Talvez dos dois.
Mães (sem filhos)
A melhor conduta a ser seguida é fugir de qualquer conceito estanque
O estudo das sociedades evidencia maneiras diametralmente opostas de encarar a perpetuação da nossa raça
Gilmar Marcílio
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