Mesclando espanto e fascinação, um amigo me diz ter recebido o produto encomendado pela Amazon em apenas dois dias. Sem pagar sequer o frete. Essa espécie de comoção contemporânea pela rapidez encontra seu ápice nos que babam de alegria diante do aumento da potência de sua internet. Têm a falsa ilusão de ganhar tempo. A propósito: conseguirão gastá-lo sabiamente? Será arquitetando novas formas de entronizar o efêmero como o novo deus a ser reverenciado? Corro o risco de parecer meio ranzinza, mas não entendo como passamos a cultuar tanto a celeridade, encharcando-a de qualidades que sou incapaz de descobrir. Essa idolatria é responsável pela privação do gosto das coisas, como se fosse primordial existirem à velocidade da luz para se tornarem legítimas. Vivo a privilegiada condição de morar afastado do burburinho da cidade grande. Nutro a percepção de ganho ou de perda relacionados à capacidade de usufruir com consciência e prazer o que me cerca, ao invés de empilhar fatos e sensações fugidias. Atribuir serventia considerando unicamente a prontidão é um equívoco. O sentimento de evasão é confirmado pela realidade, e acelerá-lo patologicamente, como estamos fazendo de uns tempos para cá, é atitude francamente suicida.
Atalhos raramente me interessam. Percorro o caminho inteiro, legitimando a doce ansiedade nascida junto com o desejo. Vale para o início da paixão, a espera pelo objeto encomendado, a festa do próximo sábado. A expectativa excede a fascinação pela posse. O escritor francês André Gide, em seu poético livro Os frutos da Terra, nos ensina a amar o difícil, o áspero, porque ele contém o germe do pleno gozo. Isso passou a ser antinatural no mundo hiperconectado. Ando empenhado em promover resistências pacíficas, fazendo menos, demorando mais. Testo minha resistência cotidianamente, rechaçando a ideia de ultrapassar a marca anterior como sinal de inteligência. Muitas vezes é forçoso parar para continuar andando. Caso contrário, deixaremos de ver as paisagens em seus fascinantes detalhes e a beleza transformando-se diante dos nossos olhos, como uma estação interior preparando-se para gestar as sementes.
Adotar postura claramente passiva diante da vida pode ser visto como a última arma contra a ditadura da eficiência e da variedade. É bom pertencer a pequenas comunidades, felicidade paulatinamente roubada com a noção de aproveitamento compulsivo. “Tudo ao mesmo tempo agora” jamais será meu lema. Ao contrário: uma coisa de cada vez, sem pressa alguma. Fujo desse imenso supermercado, pois ele coloca à disposição o que não quero e não preciso. O essencial é gerado silenciosamente nos dias macios de contemplação. O valor segue apartado da urgência.