Acho triste a ideia de precisarmos perder algo para lhe atribuir valor. Infelizmente, em muitas circunstâncias é assim, pois nos distraímos, a despeito do quão afortunados somos. Mas a ampliação da consciência pode nascer de banalidades também, sem o extraordinário irrompendo para dar importância superlativa ao que se dilui no cotidiano. Da filosofia budista, aprecio especialmente os ensinamentos sobre a capacidade de expandir a atenção. Se você observar, quando nos encontramos absortos em outras coisas, normalmente erramos, trocando os pés pelas mãos. No trânsito, nas relações amorosas, no trabalho. Acostumamo-nos a receber mil estímulos, concomitantemente. E a nos orgulhar de tudo absorver. Na prática, raramente isso acontece. Às vezes até pode, mas fica longe da excelência. Gosto de fazer tudo com calma, parcimoniosamente. Procuro disciplinar minha mente para ela se concentrar no específico, tornando o restante periférico. E evito como posso a interrupção de uma atividade quando sou convocado a ir além (e ao mesmo tempo) do que estou vivenciando. Exemplo: assisto a filmes com um grau absoluto de concentração. É difícil para mim sair do que alguns chamam enganosamente de fantasia ou imaginação. Há somente a história, e ela desperta semelhante arrebatamento quanto a realidade propriamente dita.
Opinião
Gilmar Marcílio: pulsações
Procuro disciplinar minha mente para ela se concentrar no específico, tornando o restante periférico
Gilmar Marcílio
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